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Está no Brasil 247
O jornal O Globo publicou nesta sexta-feira (4) um editorial em que sai em defesa do Congresso Nacional, num momento em que crescem as críticas populares aos privilégios parlamentares e às distorções do sistema tributário brasileiro. Sob o título “Ataques ao Congresso são inaceitáveis”, o texto tenta desqualificar a campanha por justiça tributária liderada por setores progressistas e apresenta argumentos alinhados com a defesa dos interesses do centrão e das elites econômicas. Na noite de quinta-feira (3) o Jornal Nacional já havia feito críticas a campanha pela taxação dos super-ricos.
A manifestação editorial do grupo Globo ocorre após a ampla repercussão de vídeos que questionam os privilégios fiscais e o papel do presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), além seu antecessor Arthur Lira (PP-AL). Mesmo com a tentativa de moderação expressa por figuras como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann — que afirmou que “não é assim que vamos construir saídas para o Brasil” —, o clamor por mudanças na estrutura de arrecadação e gastos do Estado não cessou. Um exemplo foi a ocupação simbólica de uma agência bancária na Avenida Faria Lima, em São Paulo, promovida por militantes exigindo a taxação dos super-ricos.
Apesar disso, O Globo preferiu focar seu editorial numa crítica ao que chama de “campanha polarizadora e mendaz” promovida pelo PT e pelo presidente Lula. Em tom alarmista, o jornal classificou como “perturbador” o uso de expressões como “inimigo do povo” e tentou associá-las à lógica autoritária de regimes totalitários. Ignora, no entanto, que tal expressão tem sido frequentemente utilizada por líderes de extrema direita, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, justamente para deslegitimar a imprensa e opositores — incluindo veículos como o próprio New York Times.
Um Congresso blindado e elogiado
O editorial minimiza os inúmeros escândalos envolvendo o Congresso Nacional e sustenta que a instituição “tem evitado desvios à direita e à esquerda ao longo da História”, além de afirmar que “todos os avanços do Brasil passam pelo Congresso”. Entre os supostos méritos atribuídos ao Parlamento, o texto destaca as reformas da Previdência e a tributária, esta última ainda em debate e que, segundo a própria crítica publicada, “não mexe em regimes especiais, como o Simples e o Lucro Presumido”.
Para O Globo, a proposta do governo Lula de aumentar o IOF para corrigir distorções regressivas seria “absurda”, ao mesmo tempo em que o jornal considera “meritória” a derrubada do tributo pelo Congresso. Ignora, porém, que esse movimento favorece os setores mais ricos da sociedade, enquanto a carga tributária permanece pesando sobre os mais pobres.Ao defender o relator da reforma administrativa, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), e elogiar Hugo Motta, o jornal procura blindar figuras centrais do centrão, setor político notoriamente associado ao clientelismo e ao fisiologismo. O Globo trata como “absurdo” o slogan “taxar os super-ricos”, mesmo reconhecendo que há R$ 544 bilhões em isenções e subsídios tributários, muitos deles sem qualquer critério técnico ou retorno social.
Ataques à campanha popular por justiça tributária
Sem reconhecer a legitimidade do movimento por uma reforma mais justa, o editorial do jornal dos Marinho adota uma retórica tecnocrática para invalidar propostas que contam com amplo respaldo popular. Ao afirmar que “ninguém defende congelar o salário mínimo”, o texto sugere que críticas à tentativa de desvincular o reajuste do piso nacional dos benefícios previdenciários seriam parte de uma estratégia manipuladora — quando, na verdade, está documentada a articulação no Congresso em torno dessa possibilidade.
Mais uma vez, O Globo se posiciona como defensor dos interesses das elites econômicas e políticas, enquanto ataca a mobilização social que exige o fim de privilégios e mais justiça na arrecadação de impostos. Ao qualificar a pressão popular como “radicalização” e o debate sobre desigualdade como “polarização”, o jornal tenta preservar o status quo num país marcado por concentração de renda, isenções bilionárias e desigualdade fiscal.Em vez de propor um debate honesto sobre a urgência de uma reforma tributária progressiva — que atinja lucros, dividendos e grandes fortunas —, O Globo opta por criminalizar o debate e blindar os setores mais privilegiados do país. Ao fazê-lo, não apenas atua como porta-voz do centrão, mas se coloca contra uma parcela expressiva da sociedade que clama por equidade e justiça.
Foto: Ricardo Stuckert/PR
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