blogdobarbosa

Neste aniversário de oito anos do blogdobarbosa optei por fazer uma entrevista com um político de respeitabilidade no Rio Grande do Norte, com muitos anos de estrada e que conhece como poucos os meandros da política. Diante da crise política e econômica que o Brasil enfrenta, nada mais oportuno do que ouvir a palavra de um ex-governador e ex-presidente do Senado. O nome dele: Garibaldi Alves Filho. Leia a íntegra da entrevista a seguir:

blogdobarbosa – O Sr. tem uma bagagem de muitos anos na política, já tendo sido deputado estadual por várias vezes, primeiro prefeito eleito de Natal pelo voto direto após o processo de redemocratização do país, governador por duas vezes, senador da República e presidente do Senado, além de ministro de Estado no primeiro governo Dilma. Como o Sr. observa a conjuntura política atual?

Garibaldi Alves – Com muita preocupação. Não me recordo de um momento tão delicado, pois ao mesmo tempo enfrentamos dificuldades econômicas e políticas. Exige-se dos que têm responsabilidades pública muita serenidade. E, por isso, confio que essas atitudes não faltem. Temos que estar bem atentos aos anseios da sociedade e procurar atendê-los nos limites das possibilidades do Estado.

blogdobarbosa – O Sr., como primo e amigo do ministro (Turismo) Henrique Eduardo Alves, tem conversado sobre o momento político que o país enfrenta? O que Henrique tem dito?

Garibaldi Filho – Sinceramente, não tenho aprofundado essa questão com ele. Mas, sem dúvida, como político responsável que é, sei que ele também está muito preocupado com a conjuntura atual. Henrique, com o seu perfil de bom articulador, pode contribuir muito com os que desejam reduzir o atual nível de tensão na política.

blogdobarbosa – Na opinião do Sr., que já vivenciou outros momentos de crise política no Brasil, como por exemplo, no governo Collor, e até mesmo na ditadura militar quando familiares do Sr, foram cassados – Aluizio e Agnelo Alves – o impeachment da presidenta Dilma é realmente possível?

Garibaldi Filho – Não. E não se trata aqui de uma opinião pessoal. Lideranças jurídicas e políticas não veem até aqui nenhuma motivação. Os fatos anteriores mencionados na sua pergunta não têm relação com os problemas atuais. Os motivos dessa crise, para mim, são inéditos.

blogdobarbosa – O PMDB, partido da base aliada e cujo vice-presidente – Michel Temer – é da legenda, todos sabem está dividido. Uns querem o impedimento da presidenta Dilma e outros defendem o contrário. O Sr., como peemedebista, particularmente faz que leitura desta situação?

Garibaldi Filho – Os que divergem do impedimento estão em diversos partidos, inclusive nas legendas que não participam da chamada base do governo. A propósito, vejo no PMDB o interesse em buscar o caminho da normalidade. Iniciativas nesse sentido, por exemplo, são as do vice-presidente Michel Temer, que assumiu a coordenação política do governo e a do presidente do Senado, Renan Calheiros, que acaba de apresentar uma agenda com dezenas de proposições.

blogdobarbosa – Nos bastidores da política o que se conversa em Brasília?

Garibaldi Filho – Em Brasília, certamente com mais frequência, pela proximidade com o poder o assunto é a crise política. Com as pessoas que converso, percebo que a busca é pela luz no túnel.

blogdobarbosa – O Sr., hoje, pode-se dizer um aliado do senador José Agripino (DEM) no Rio Grande do Norte. O que ele pensa sobre a conjuntura nacional?

Garibaldi Filho – Nas questões estaduais temos muitas afinidades, demonstradas nas últimas campanhas. Quanto ao plano federal, divergimos. O senador Agripino preside um partido de oposição ao governo do qual o PMDB participa.

blogdobarbosa – Os políticos de um modo geral não engolem a presidenta Dilma devido ao seu temperamento. Não à toa é taxada de “gerentona”. Alguns ministros até reclamam de serem chamados a atenção na frente de colegas. O Sr., como ex-ministro, também tem esse mesmo pensamento? Isso tem dificultado uma aproximação dela com o Congresso Nacional?

Garibaldi Filho – Ela – a presidente – precisa dialogar com os políticos e com a sociedade. Não há espaço para decisões solitárias ou com pequenos grupos. Ninguém conseguirá ultrapassar essa crise sem diálogo. E os políticos precisam ser ouvidos. Esse conselho, segundo a imprensa, parte até de correligionários da Presidente.

blogdobarbosa – No entendimento do Sr., esse jeito da presidenta Dilma pode facilitar o seu impeachment?

Garibaldi Filho – Hoje, repito, não há razões para o impedimento da Presidente.

blogdobarbosa – Um eventual impeachment da presidenta Dilma ou até mesmo a sua renúncia seria melhor para o Brasil?

Garibaldi Filho – O melhor para o Brasil é o bom funcionamento das suas instituições, para que o país possa o mais rápido possível retomar o seu crescimento econômico e preservar a paz social.

blogdobarbosa – Como o Sr. vê as manifestações de rua contra o governo?

Garibaldi Filho – Elas são legítimas. Os que elegem os mandatários e representantes nas casas legislativas têm todo o direito de cobrar. Claro, que ordeira e pacificamente, respeitando os bens públicos e privados.

blogdobarbosa – O saudoso deputado Ulysses Guimarães costumava dizer que “político só tem medo do povo nas ruas”. Hoje esse discurso se aplicaria a classe política brasileira?

Garibaldi Filho – Como expoente da democracia, o Dr. Ulysses tinha razão. Por isso, sempre acreditei que os políticos devem estar sintonizados com a opinião pública. Os políticos também precisam estar nas ruas, mas não apenas no período eleitoral. E o sentido de “ruas”, hoje, inclui o poder das redes sociais. Todos devem estar com os olhos atentos e os ouvidos abertos.

blogdobarbosa – Como senador da República, ex-presidente do Senado e ex-ministro de Estado, que mensagem o Sr. gostaria de deixar aos brasileiros neste momento crítico que o país passa?

Garibaldi Filho – Barbosa, quero, primeiro, lhe agradecer pela oportunidade e o apreço demonstrado ao me escolher para celebrar o oitavo aniversário do seu Blog. Aos brasileiros e aos norte-riograndenses em particular, quero dizer que acredito que vamos superar esse momento delicado. Temos lideranças experientes e bem intencionadas que precisam ser ouvidas e podem contribuir para encontrar uma saída para esse impasse. Temos que lutar por soluções sempre inspiradas nos princípios democráticos.

Foto: Leonardo Dantas