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Política

Hugo Motta atribui à pressão dos deputados sua traição ao governo Lula

Está no Brasil 247

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), rompeu com o governo do presidente Lula (PT), após iniciar sua gestão com acenos de conciliação. A guinada, marcada por ataques ao Executivo e à mais alta Corte do país, foi justificada por Motta como uma reação à pressão dos parlamentares pela liberação de emendas orçamentárias, segundo informa a Folha de S. Paulo. No entanto, essa narrativa escamoteia as verdadeiras fontes de pressão: a classe dominante e o grande capital financeiro, incomodados com a política fiscal do governo e dispostos a impor sua agenda por meio do Legislativo.

Em um gesto que fragiliza a harmonia entre os Poderes, Motta decidiu levar ao plenário a decisão do STF que decretou a perda do mandato da deputada Carla Zambelli (PL-SP), condenada por incitação aos atos golpistas de 8 de janeiro. Inicialmente, o presidente da Câmara havia declarado que a Mesa Diretora apenas cumpriria a ordem judicial, mas recuou e transferiu a responsabilidade ao conjunto dos deputados. Segundo aliados, a decisão busca dividir o ônus político com a maioria da Casa, num cenário em que parte significativa do Congresso tenta proteger seus próprios membros de investigações e condenações.

Outro movimento simbólico foi a decisão de pautar um requerimento do PL que tenta sustar a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), investigado por associação a milícias digitais. Embora a Primeira Turma do STF tenha mantido o andamento da denúncia, o gesto de Motta sinaliza claramente o desejo de confrontar a Corte.

No campo econômico, o racha com o governo Lula se aprofundou após o presidente publicar um decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e editar uma medida provisória que elevou impostos. Ambas foram duramente criticadas por empresários, e Motta endossou essas críticas. “Já comuniquei à equipe econômica que as medidas que estão preanunciadas deverão ter reação muito ruim não só dentro do Congresso, mas também no empresariado”, afirmou. Ele também fez questão de deixar claro que não se compromete com nenhum projeto político de governo, dizendo: “Não sirvo a projeto político de nenhum governo”.

A crítica mais dura de Motta veio após entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao jornal O Globo em maio. Na ocasião, Haddad afirmou que o equilíbrio fiscal dependia, em grande parte, do Legislativo. A declaração foi vista como uma tentativa do governo de responsabilizar a Câmara pela lentidão no avanço das medidas fiscais, o que irritou Motta e acelerou sua adesão ao discurso do setor empresarial e rentista.

A insatisfação dos deputados também tem como pano de fundo a paralisação das emendas de comissão, mecanismo usado para financiar obras e serviços nas bases eleitorais. Por decisão do STF, essas emendas passaram a exigir a identificação dos autores, o que desagrada congressistas acostumados com a opacidade na destinação de recursos públicos. Até agora, apenas R$ 85,7 milhões dos R$ 50,4 bilhões autorizados no Orçamento de 2025 foram empenhados — o que representa menos de 0,2% do total.

Motta também decidiu pautar um projeto de decreto legislativo que susta a eficácia de uma portaria do Ministério do Trabalho que exige acordo coletivo para o trabalho aos domingos e feriados no comércio sem pagamento adicional. A medida atende diretamente aos interesses de grandes redes varejistas e foi articulada com o partido Novo.

A suposta “pressão dos deputados” que motivou a guinada de Hugo Motta, portanto, parece servir como cortina de fumaça para as verdadeiras forças em jogo: as pressões do capital financeiro, da elite empresarial e das bancadas conservadoras, que se articulam para impor limites ao Executivo e conter avanços sociais e redistributivos promovidos pelo governo Lula. Com isso, o presidente da Câmara assume o papel de agente do conservadorismo econômico, mesmo tentando manter uma imagem de “equilíbrio institucional”.

Apesar de reafirmar aos aliados que manterá “um estilo conciliador” e que buscará diálogo, suas ações apontam para o oposto: uma liderança legislativa que se alinha aos interesses do grande capital e tenta limitar o alcance das políticas públicas de inclusão e investimento do atual governo.

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