Entrevista

`Infelizmente há pessoas que não sabem lidar com a democracia e partem para agressões´, desabafa senadora

O blog entrevistou a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), alvo de agressões nas manifestações a favor do impeachment da presidenta Dilma neste domingo (16), em Natal. Nesta entrevista, a petista disse que o seu  mandato está aberto, inclusive, às críticas daqueles que querem colaborar com a melhoria da qualidade de vida no Rio Grande do Norte e no Brasil. “Infelizmente, há pessoas que não sabem lidar com a democracia e partem para agressões, mas isso não nos desestimula a seguir trabalhando”. Leia a íntegra da entrevista concedida com exclusividade ao blog.

blogdobarbosa – Como a Sra encara as manifestações de rua a favor do impeachment da presidenta Dilma?

Fátima Bezerra – A manifestação popular é importante, demonstra que temos liberdade de expor nossas ideias, de ir às ruas pelo que acreditamos. Mas é triste e assustador que por vezes surjam discursos totalitários no meio disso, pedindo a volta da ditadura, por exemplo, onde não seria possível manifestar-se. Sobre os pedidos do impeachment, nós vemos que até os setores mais conservadores da política, após ponderar sobre os efeitos nefastos de uma crise política para o país, recuaram nesse pedido. Seguimos com a certeza que o povo brasileiro sabe valorizar a sua democracia, e sobretudo temos a convicção de que a presidenta não tem qualquer envolvimento com malfeitos que possam ter ocorrido.

blogdobarbosa – O nome da Sra, como também o nome do deputado Fernando Mineiro, junto com o da presidenta Dilma e de Lula, foram lembrados em um cartaz nas manifestações em Natal de forma jocosa. O que a Sra tem a dizer sobre isso?

Fátima Bezerra – Nosso trabalho é transparente e incessante. Diariamente recebo as mais variadas manifestações de apoio pelo trabalho que estamos realizando no Senado Federal em prol do povo potiguar. O mandato está aberto, inclusive, às críticas daqueles que querem colaborar com a melhoria da qualidade de vida no Rio Grande do Norte e no Brasil. Infelizmente há pessoas que não sabem lidar com a democracia e partem para agressões, mas isso não nos desestimula a seguir trabalhando.

blogdobarbosa – No entendimento da Sra, as manifestações contra o governo e o PT caracterizam mesmo o pensamento do povo brasileiro?

Fátima Bezerra – Nós temos ali um segmento que é expressivo, mas que não se pode sequer dizer que é a maioria da população brasileira. Os institutos de pesquisa apuraram que em relação ao voto em 2014, quase ninguém entre os manifestantes de São Paulo haviam votado em Dilma. Isso é sintomático: a grande parte dos que estão nas ruas querem, na prática, reeditar a eleição, o que não é aceitável no nosso sistema democrático. Concordamos que estejam nas ruas, reivindiquem suas pautas, apresentem seus anseios ao governo, mas sabendo que a ordem democrática será mantida, e que os demais segmentos da sociedade também serão ouvidos.

blogdobarbosa – Há dois anos, antes da Copa, o povo saiu as ruas do país para cobrar do Congresso Nacional aprovação de projetos que estavam engavetados. Dois anos depois, esse mesmo povo vai as ruas para pedir o impeachment da presidenta Dilma. O que mudou?

Fátima Bezerra – Não se pode dizer que os manifestantes são os mesmos. Em 2013, tínhamos um perfil de pedidos de ampliação de direitos sociais, uma pauta razoavelmente progressista. Quando surgem nas manifestações de junho de 2013 certas demandas conservadoras, até mesmo assustadoras como pedidos de intervenção militar e restrição de direitos, parte dos manifestantes progressistas deixa de participar delas. Nada mudou, os reacionários apenas se deram conta que a democracia permite, inclusive, a manifestação daqueles que torcem pelo fim dela e retorno a regimes totalitários. Claro que nós sempre iremos lutar pela manutenção e aperfeiçoamento da democracia.

blogdobarbosa – A crise econômica e política que o Brasil vive tem solução, senadora?

Fátima Bezerra – Mas é evidente. Já enfrentamos crises piores na história de nosso país, saímos delas, e com essa não será diferente. Até porque, é importante que se frise, o governo tem feito o máximo para que os direitos das populações mais necessitadas sejam garantidos. Estamos lutando fortemente para fazer o país voltar a crescer, e o governo tem se mostrado disposto ao diálogo para evitar o aprofundamento da crise política. Cabe ao outro lado decidir se quer dialogar ou prefere arrastar o país para um abismo, do qual não conhecemos o fundo.

blogdobarbosa – A Sra está no foco do furacão em Brasília, onde as coisas acontecem. O que a Sra tem observado. O clima é mesmo de instabilidade?

Fátima Bezerra – O clima nos últimos tempos tem se amenizado. Crescem as disposições ao diálogo, e isso é fundamental à democracia e para que saiamos do momento que atravessamos. Alguns tentam plantar o caos, mas estamos atentos e garantiremos, no regime democrático, que a vontade da maioria da população, expressa nas urnas em 2014, seja respeitada.

blogdobarbosa – O que a Sra tem a dizer do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que insiste em dificultar a vida do governo com as chamadas “pautas bomba”?

Fátima Bezerra – Não podemos concordar que, em um momento de dificuldade e ajustes, matérias como as das chamadas pautas-bomba, que elevam o gasto público, sejam postas em mesa. Mas não cabe a mim aconselhar o presidente da Câmara dos Deputados. É evidente que temos grandes divergências, que ele representa um conservadorismo ao qual nos opomos politicamente. Isso não pode ser pretexto, porém, para que alimentemos novas crises, novas disputas. O momento é de buscar diálogo para melhorar o país.

blogdobarbosa – Para a Sra, a presidenta Dilma deve enxugar mesmo o seu Ministério? O PMDB deve continuar fazendo parte do governo?

Fátima Bezerra – É preciso um aprofundamento nesta questão porque qualquer discussão neste sentido deve se dar de forma a não permitir a restrição de direitos. É evidente que os cortes não atingiriam as pautas consagradas, que defendem os direitos daqueles que sempre ocuparam o poder. Não podemos sequer cogitar que se extinga ministérios que tratam de pautas importantíssimas como o direito de minorias. Até porque o impacto financeiro de medidas como essas é irrisório, isso seria jogar para a plateia. Em relação ao PMDB, não se trata de fazer parte do governo. O PMDB tem o vice-presidente da República, eleito com Dilma. O PMDB é governo e isso não está em discussão.

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