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Política

Interpol já recusou incluir bolsonaristas na lista vermelha mesmo após pedidos de Alexandre de Moraes

Está no Brasil 247

Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal encaminhou à Interpol o pedido de inclusão da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na chamada lista vermelha de procurados internacionais. No entanto, como lembrou a Folha de S. Paulo, esse tipo de solicitação já foi negado em outras ocasiões, mesmo com ordens do próprio ministro.

Ao longo dos últimos anos, a Interpol recusou dois pedidos semelhantes relacionados a bolsonaristas investigados ou processados no Brasil: os influenciadores Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio. As recusas ocorreram após análise interna da organização, que avalia se os mandados de prisão são compatíveis com as normas internacionais da entidade, incluindo a proibição de interferência em assuntos de cunho político.

Casos anteriores

Allan dos Santos (foto) deixou o Brasil em 2020, durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL). No ano seguinte, Alexandre de Moraes decretou sua prisão preventiva por suspeitas de crimes como lavagem de dinheiro, organização criminosa e incitação ao crime.

Em resposta, a Polícia Federal solicitou à Interpol a inclusão de Allan na difusão vermelha — instrumento que permite a comunicação da condição de foragido a todos os 196 países-membros da organização, buscando apoio na captura. Contudo, ainda em 2021, a Interpol questionou a clareza das informações enviadas pelas autoridades brasileiras, principalmente no que se referia à acusação de lavagem de dinheiro.

“A Secretaria-Geral considera que a descrição das atividades criminosas de Allan Lopes dos Santos não é clara, notadamente no que diz respeito à acusação de lavagem de dinheiro. Assim, para permitir que a Secretaria-Geral conclua sua análise do caso, reiteramos nosso pedido de algumas informações adicionais”, comunicou a chefia da Interpol à PF, por e-mail.

Mesmo após o envio de novas informações, em dezembro de 2022 a Interpol negou a inclusão de Allan dos Santos na lista vermelha.

Outro nome rejeitado pela organização internacional foi o de Oswaldo Eustáquio, também ligado ao bolsonarismo. Em 2023, após a decretação de sua prisão pelo STF sob a acusação de incitar os atos de vandalismo ocorridos em Brasília em 12 de dezembro de 2022, a PF solicitou sua inserção na difusão vermelha. Naquela ocasião, bolsonaristas incendiaram ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal após a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante. O influenciador Bismark Fugazza, sócio de Eustáquio, foi detido.

Contudo, a Interpol voltou a negar o pedido. Segundo ofício enviado ao gabinete de Moraes pelo coordenador-geral de Cooperação Policial Internacional da PF, Fábio Mertens, a organização não inclui nomes de pessoas que tenham solicitado refúgio ou asilo político em outros países. O critério se baseia no artigo 3º da constituição da Interpol, que proíbe expressamente a entidade de se envolver em assuntos “de caráter político, militar, religioso ou racial”.

A situação de Eustáquio também teve desdobramentos judiciais na Europa. Em abril deste ano, a Espanha negou sua extradição, decisão fundamentada na ausência de garantias sobre o respeito ao princípio da reciprocidade. Como resposta, Moraes suspendeu a extradição de um cidadão búlgaro condenado pela Justiça espanhola.

O caso de Carla Zambelli

Agora, Carla Zambelli pode ter o mesmo destino dos dois influenciadores. Na quarta-feira (4), Moraes determinou que a Polícia Federal reunisse os documentos relativos à condenação da parlamentar e desse início ao trâmite para inseri-la na lista vermelha da Interpol.

Zambelli foi condenada a dez anos de prisão pela Primeira Turma do STF por ter acessado ilegalmente os sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com apoio do hacker Walter Delgatti. A ação teve como objetivo a criação de falsos mandados de prisão e de soltura com o intuito de gerar confusão institucional.

A ordem de prisão preventiva foi justificada pelo ministro do STF com base no argumento de que a deputada teria fugido do Brasil para evitar o cumprimento da pena. Atualmente, Zambelli está nos Estados Unidos e teria manifestado desejo de se mudar para a Itália.

Com o material já enviado à Secretaria-Geral da Interpol, em Lyon (França), caberá agora ao conselho da organização analisar a documentação e decidir se o pedido atende aos critérios exigidos. Pela primeira vez, a Interpol é comandada por um brasileiro: Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal.

A possível inclusão de Zambelli na lista vermelha não tem prazo determinado e poderá levar dias ou semanas. Até que a análise seja concluída, não há impedimentos legais para que a deputada se desloque entre países.

Foto reproduzida da Internet

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