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Política

Itamaraty reage à The Economist e diz que Lula mantém `coerência da política externa brasileira´

Está no Brasil 247

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil respondeu formalmente às críticas feitas pela revista britânica The Economist, que apontou uma suposta perda de relevância internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o descreveu como “cada vez mais hostil” ao Ocidente. Segundo a coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, a carta de resposta, assinada pelo chanceler Mauro Vieira, foi entregue à publicação na madrugada desta terça-feira (1) por meio da embaixada brasileira em Londres.

Segundo reportagem da The Economist, Lula estaria se afastando de aliados tradicionais ao não endossar o apoio de potências ocidentais aos ataques dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. A revista também criticou o fato de o Brasil não ter respaldado a narrativa de que Israel — que lançou os primeiros ataques contra Teerã — “tinha o direito de se defender e garantir sua segurança”.

Em contraste com a análise da revista, o presidente brasileiro manifestou “grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio” e condenou “ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos, contra instalações nucleares, em violação à soberania do Irã e do direito internacional”.

A The Economist classificou a posição de Lula como “em desacordo com todas as outras democracias ocidentais”, que teriam apoiado ou se omitido diante dos ataques. A publicação também sugeriu que a aproximação entre Brasil e Irã se tornará ainda mais evidente durante a próxima cúpula do BRICS, marcada para a próxima semana no Rio de Janeiro, evento que contaria com forte influência chinesa. A revista ainda criticou o fato de Lula “nunca ter feito esforço” para encontrar-se com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Na resposta enviada à revista, o chanceler Mauro Vieira afirmou que as críticas brasileiras aos bombardeios contra o Irã decorrem do entendimento de que esses ataques violam a Carta das Nações Unidas e normas básicas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Ele destacou que tais diretrizes existem para proteger o mundo dos riscos de radiação e de desastres ambientais causados por ataques a instalações nucleares.

De acordo com um diplomata ouvido pela reportagem, o governo brasileiro considera que nem mesmo as democracias ocidentais estão imunes a práticas de dois pesos e duas medidas, como já teria ocorrido em episódios anteriores. Por isso, segundo essa fonte, o Brasil “não tem razão para repetir erros”, especialmente diante da constatação de que as ações dos EUA “ferem frontalmente o direito internacional”.

O governo brasileiro também rejeitou qualquer insinuação de omissão diante da situação humanitária nos territórios palestinos. Ao contrário, reforçou que o país não hesitaria em condenar os atos de violência que afetam Gaza e a Cisjordânia — atitude que, segundo o diplomata, nem todas as nações adotam.

Por fim, o chanceler Vieira defendeu que a postura do presidente Lula é reflexo da “coerência da política externa brasileira”, amparada em princípios do direito internacional, da Carta da ONU e das Convenções de Genebra. A carta lembra ainda que o governo brasileiro condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia e reforça o papel do BRICS como uma plataforma relevante para a construção de um mundo multipolar, “mais pacífico e menos assimétrico”.

Leia a íntegra da carta

“Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações. 

Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas. 

O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.

Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra. 

Foto reproduzida da Internet

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