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O blog leva ao ar uma entrevista com o coordenador do processo de Regionalização da Saúde no Rio Grande do Norte, Ion Andrade. A frase acima é atribuída a ele. Nesta entrevista, Andrade traça um Raio-X do que será a regionalização do sistema de saúde no estado. Segundo ele, o SUS não vai melhorar com uma bala de prata, será sempre uma construção coletiva por aproximações sucessivas rumo a uma atenção à saúde cada vez melhor. A Regionalização é parte disto. Leia a íntegra da entrevista:
blogdobarbosa – Dr. Ion, se fala muito na Regionalização da Saúde, um projeto, inclusive, que está em vias de implantação na Secretaria Estadual de Saúde. O Sr. como coordenador desse projeto poderia explicar melhor em que consiste a regionalização?
Ion Andrade – Queria em primeiro lugar agradecer o convite para debater sobre esse assunto. A Regionalização é uma diretriz antiga do SUS, um norte para o qual o sistema já vem migrando há muito tempo. Embora com funcionamento insuficiente, há, por exemplo, uma rede hospitalar implantada em todas as regiões, há maternidades, CAPS, Centros de Especialidades Odontológicas, etc. Então a Regionalização é em parte um exercício de reordenamento desse conjunto, tentando enxergar lacunas e necessidades não respondidas. Comumente o planejamento na Saúde ocorre de forma centralizada na Secretaria Estadual de Saúde que define prioridades e coordena os processos. Na Regionalização que estamos construindo um dos desafios é o de despertar o protagonismo e a autoconfiança regionais, que são o motor propulsor do processo.
blogdobarbosa – Em que a regionalização vai beneficiar, efetivamente, o usuário do sistema público de saúde no Rio Grande do Norte?
Ion Andrade – A Regionalização é um processo que tende a criar regiões de saúde mais resolutivas e autossuficientes no plano da oferta de serviços. Isto significa que o usuário passa a fazer jus a uma atenção à saúde mais próxima do seu local de moradia. Essa vantagem já é importante. A Regionalização tende a criar arranjos que são também mais custos efetivos. Isto também permite imaginar que o sistema cresce e passa a poder oferecer mais por ser também mais eficiente.
blogdobarbosa – Os 23 hospitais públicos do estado estão preparados para a Regionalização?
Ion Andrade – Há uma realidade muito variada no RN, há hospitais resolutivos e cruciais para o sistema, como é o caso do Wlafredo Gurgel, do Santa Catarina, do Deoclécio Marques ou do Tarcísio Maia. Há outros hospitais também muito importantes em suas especialidades como é o caso do Gizelda Trigueiro, há maternidades dentre esses hospitais que oferecem bons serviços às parturientes. Entretanto há hospitais que terão que mudar de perfil, pois estão situados em regiões onde há outros hospitais e funcionam como grandes ambulatórios da Atenção Básica. Esses hospitais, num arranjo regional deverão ser convertidos em outras unidades tais como policlínicas e UPAs.
blogdobarbosa – Como está a questão do hospital terciário? E o que isso representa para a saúde pública?
Ion Andrade – O Hospital Terciário é a outra ponta do sistema. Temos que raciocinar a saúde como um fluxo, a regionalização permite melhor atender o paciente em sua região, porém muitos pacientes continuarão necessitando de serviços mais complexos e especializados que não podem existir regionalmente. Esses pacientes, independentemente da regionalização deverão ser assistidos em centros maiores como Natal ou Mossoró. O Hospital Terciário ajuda a resolver esse tipo de situação. De certa forma ele próprio incorpora uma lógica de Regionalização, pois na Alta Complexidade muitos pacientes têm que sair de Natal para fazer os seus procedimentos no eixo Rio-São Paulo. Com o Hospital Terciário parte desses procedimentos poderia ser concluído aqui.
blogdobarbosa – A população cobra a melhoria na saúde. O que a regionalização pode representar nesse contexto de oferecer uma melhor qualidade aos serviços de saúde?
Ion Andrade – Na Saúde o objetivo é o paciente. A Regionalização só tem sentido se for feita para o paciente, centrada nele. Então todo o processo tem esse propósito. Cada passo adiante na organização da oferta de serviços e da suficiência da rede será percebido como uma melhoria da qualidade da atenção.
blogdobarbosa – Os recursos destinados à saúde hoje são suficientes para se fazer uma saúde pública de qualidade?
Ion Andrade – Não são suficientes e devem ser incrementados. Um dos gargalos do SUS é o financiamento. Ao mesmo tempo muito pode ser feito com o que já está disponível e os arranjos regionais podem permitir em algumas situações o surgimento de novos serviços a partir de um compartilhamento organizado de esforços e não obrigatoriamente com custos novos.
blogdobarbosa – A Regionalização da Saúde vai acabar com a nefasta prática da ambulancioterapia?
Ion Andrade – O transporte sanitário para os locais que oferecem os serviços vai continuar. Será sempre necessário levar o paciente interando para fazer algum exame fora do hospital, ou conduzir um paciente oncológico para a radioterapia, dentre outras situações onde o transporte salva vidas. O que queremos que desapareça é o transporte longo e desnecessário para causas que deveriam encontrar soluções regionais como poderia ser o caso da imobilização gessada de uma criança que fraturou o braço ou da cirurgia da apendicite. Para que isso aconteça, entretanto há um caminho pela frente, alguns problemas serão resolvidos antes em dada região outros em outras e até que a rede seja homogeneamente suficiente deveremos trabalhar muito e ter muito foco.
blogdobarbosa – O senhor está otimista?
Ion Andrade – O otimismo é o motor para a ação, ninguém consegue mover-se se não for otimista. Ao mesmo tempo é preciso constatar que a realidade é difícil e complexa e há problemas imensos em muitas áreas. Então o otimismo não pode nos fazer perder a conexão com essas dificuldades. O SUS não vai melhorar com uma bala de prata, será sempre uma construção coletiva por aproximações sucessivas rumo a uma atenção à saúde cada vez melhor. A Regionalização é parte disto.
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