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Artigo

Nem reality show hospitalar de Bolsonaro vai livrá-lo da prisão

por Bepe Damasco, no Brasil 247

O momento em que Bolsonaro lança mão de mais uma teatralização hospitalar remete ao dia 6 de setembro de 2018, data do episódio nebuloso da facada, ou fakeada, até hoje com muitas pontas soltas e sem explicações plausíveis. O documentário do jornalista Joaquim Carvalho para o Brasil 247 deixa muitas perguntas sem respostas.

A principal delas, na minha opinião, foi a cortesia inimaginável dispensada pela turba neofascista ao “esfaqueador” Adélio, que foi protegido e não linchado pelos seguidores de Bolsonaro. 

O problema é que a mídia comercial comprou integralmente e sem nenhum senso crítico a versão bolsonarista dos fatos e segue virando bicho diante de quaisquer questionamentos sobre os acontecimentos de Juiz de Fora.

Vale destacar o contexto político-eleitoral da época. Em 11 de setembro de 2018, cinco dias depois da facada, o PT anunciava a candidatura de Fernando Haddad em substituição a Lula, que liderava as pesquisas mesmo preso, mas teve sua candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral. 

Em poucos dias de campanha, Haddad subiu fortemente nas pesquisas, colou em Bolsonaro e já aparecia à frente nas projeções de segundo turno. Mas se tornou impossível concorrer com o processo de vitimização de Bolsonaro, que transformou o quarto de hospital em palanque eleitoral, com forte exposição midiática.

O que se viu foi um bombardeio de manchetes do tipo “Bolsonaro anda pela primeira vez”, ou “Bolsonaro se alimenta pela primeira vez”, ou ainda “Bolsonaro faz c…pela primeira vez.”

De quebra, ele arrumou um pretexto sob medida para fugir dos debates do primeiro turno, nos quais seria massacrado por Haddad. No segundo turno, já recuperado, aproveitou os efeitos eleitorais da vitimização e se negou a debater também. Podia fazer comícios, caminhadas, corpo a corpo, mas os efeitos da facada não permitiam que comparecesse a um confortável estúdio de TV para debater. 

Quase sete anos depois, sigo com a certeza de que, sem a facada, Bolsonaro não teria sido eleito e Haddad venceria aquela eleição. 

Dessa vez, porém, não haverá encenação hospitalar que o livre da condenação e da prisão. 

*Bepe Damasco é jornalista, editor do Blog do Bepe

Foto: UOL

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