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Artigo

Num mundo de Bolsonaros, Mileis e Marçais, Gusttavo Lima não pode ser subestimado

por Leonardo Attuch, no Brasil 247

A candidatura presidencial de Gusttavo Lima, ainda sem partido, à presidência da República em 2026 não deve ser subestimada. O sertanejo, que é uma peça relevante no projeto de dominação ideológica da elite agrária brasileira, e também parte de esquemas de desvios de recursos por parte da direita, com shows superfaturados em cidades pequenas pagos com emendas parlamentares, não se lançaria candidato sem nenhum tipo de retaguarda política.

Se Gusttavo Lima, que nasceu Nivaldo Batista Lima, na cidade de Presidente Olegário, em Minas Gerais, fez este movimento, isso ocorreu porque há poderosos e bilionários interessados neste movimento. Não por acaso, em sua primeira manifestação política, Gusttavo se colocou como: (1) o pobre que subiu na vida, (2) o empreendedor que sabe gerenciar seus negócios, (3) o empresário que prega desburocratização e, portanto, é contra o estado, e – last but not least – (4) o representante do agronegócio, que “pagaria impostos demais”, sem receber as devidas benfeitorias. Ou seja: o sertanejo já tem um discurso político articulado, conectado aos interesses agropecuários e financistas, que hoje dão as cartas no País.

O sertanejo, que se tornou famoso com o refrão “tchê-tchererê-tchetchê” é um sintoma da decadência cultural brasileira, mas é inegavelmente popular. Toca nas rádios do interior e atrai multidões em seus shows. E figuras populares têm sido escolhidas a dedo por bilionários num mundo em que partidos oligárquicos têm cada vez mais dificuldade para controlar os rumos da política. Não por acaso, há muitos anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a Globo e os bilionários que ambos representam passaram a desenhar o projeto de uma candidatura do apresentador Luciano Huck, tão-somente porque ele seria supostamente popular. Hoje, quando se vê a decadência de partidos como o PSDB e a ascensão de políticos como o senador Cleitinho (Republicanos-MG), fica claro que não há mais filtros na política e qualquer invasão bárbara é possível.

No mundo de hoje, é só olhar para o cenário sul-americano para não subestimar a candidatura de Gusttavo Lima. Basta lembrar que Jair Bolsonaro, o mais desclassificado de todos os deputados federais brasileiros, foi eleito presidente em 2018. Ou que o ex-coach Pablo Marçal surgiu do nada e quase se elegeu prefeito de São Paulo, a maior cidade do País. Ou ainda que a Argentina, bem aqui ao lado, é governada por Javier Milei, um completo idiota, que é exaltado pelas burguesias locais e internacionais.

Aliás, este é um ponto importante. Aos bilionários, interessa alimentar o descrédito na política e transformar a democracia liberal em entretenimento. Com líderes circenses, um parlamento alinhado e um Judiciário fiel aos princípios neoliberais, a dominação avança com maior facilidade. Para que Gusttavo Lima se torne além de eleitoralmente um nome também politicamente viável, basta encontrar um Paulo Guedes pelo caminho, um Malafaia, uma Damares ou uma Michelle, para que se forme uma nova aliança agro-evangélico-rentista contra o projeto de desenvolvimento nacional representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua frente ampla.

Portanto, não subestimem Gusttavo Lima. A história já deu provas suficientes de que tudo sempre pode piorar e de que o poço sempre pode ser mais fundo. A democracia liberal oferece ao público nomes ignóbeis para que os bilionários se tornem ainda mais bilionários. E bilionários não devem ser subestimados.

* Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247, além de colunista das revistas Istoé e Nordeste

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