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por Stella Galvão
Filósofo da antiguidade que ganhou fama de vidente, Nostradamus viveu e escreveu no século XVI e deixou inscrita sua previsão para diversas épocas do século seguinte, numa coletânea apropriadamente chamada Les Prophéties (As Profecias, de 1555). Nela, o ano de 2021 comparece como alvo de ataques de zumbis [metáfora quu associamos livremente às hostes que seguem cegamente o celerado de Brasília]. “No céu, vê-se fogo e um longo rastro de faíscas”, diz um trecho da profecia. Uns associaram à chuva de asteroides que alcançaria o planeta onde vivemos.
Brasileiros que não bebem água do pote das mentiras podem tremer temendo que a previsão na verdade signifique um bando de macho armado atirando a esmo na direção das grossas paredes do STF ou do Congresso [explica lá que tem gente do bando dele, muito bem entocada], e mesmo em incautos transeuntes com camisa vermelha. Algo como uma versão brasiliense, ou paulista, do belo espetáculo de teatro Chuva de balas
no país de Mossoró, referência à passagem de Lampião e seu bando pelo agreste potiguar. Mas no plano real, com alta probabilidade de riscar de vermelho o chão do asfalto.
O jornalista Ricardo Kotcho escreveu [2/9/21] em sua coluna: “Na falta de um inimigo externo, em combate permanente desde a posse, o capitão insurgente resolveu declarar guerra contra o próprio país. Contra quem, exatamente, ainda não se sabe, nem ele.” Seria uma guerra contra os moinhos de vento de uma cabeça ensandecida para manter- se a qualquer custo no poder, poder ao qual ele ascendeu pela via democrática.
O chamado bozo, apelido de opositores que faz referência a um palhaço televisivo que alegrava a criançada, fecha os olhos em transe para os reais problemas brasileiros: ecos da pandemia, desemprego, inflação galopante, fome, crise das fontes energéticas e de abastecimento de água. O boçal ainda teve a cara dura de sugerir aos integrantes da seita do cercadinho de Brasília [gente que vai ali para aplaudir qualquer estrupício vomitivo
pronunciado como um esgar] em 3/9/21 que comprassem fuzil no lugar de feijão, “como uma versão mal-ajambrada de uma Maria Antonieta às vésperas da Revolução Francesa”, como escreveu José Marques, da revista Istoé. Com a ressalva que a rainha francesa sugeriu ao povo faminto que comprasse brioches para combater a fome. Terminou com a cabeça na bandeja.
O tresloucado tem claque fixa – e qual napoleão de hospício não sonharia com isso? Ter público para suas sandices esbravejadas, gritadas enquanto a baba furiosa escorre de uma face transtornada pelo ódio a uma maioria de brasileiros que ousam pensar, ou que desembarcaram de um governo de faz de conta mesmo tendo contribuído com o voto naquele triste pleito eleitoral de 2018. E eles estão com sangue nos olhos, convencidos
que o escroque que apoiam é vítima de uma grande conspiração que o impede de governar [leia-se trabalhar, coisa que nunca fez nem fará].
Foi no último dia deste agosto desgostoso, numa cidade mineira, que este personagem fora do papel montou um cavalo, sem limites para as cafajestadas diuturnas, empunhou a bandeira nacional [que, de tão chafurdada, hoje muitos a veem como grande símbolo da vergonha brasileira acompanhada pelo mundo], e fez pose de imperador, emulando um D. Pedro que pegaria o primeiro navio para Portugal se sonhasse, em 1822, com tão obtusa ‘homenagem’.
Esta genuína cria da terrível ditadura que assolou o país – expulso pelo próprio Exército de suas fileiras aos 33 anos sonha em virar um ditadorzinho celebrado pelas milícias digitais, empurrando o país ao caos que o alegra. Mas o dia 7 passará, como passarão os arroubos do chefete de milicianos e monarca das rachadinhas. E não custa desejar muito, com os dedos cruzados, mangalô três vezes, que o TSE consiga reunir todos os
elementos jurídicos para tornar inelegível o infitete. Na dúvida, fique em casa no dia 7, se você usa a massa cinzenta do cérebro.
*Stella Galvão é jornalista e colaboradora do blog, Doutora em Educação pela UFRN e autora de ‘Calos e Afetos’ e ‘Entreatos’. e-mail: stellag@uol.com.br
Ilustração: Franceso Guazzo
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