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Baú de um Repórter

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Coletânea de Causos

Que causos são esses, Barbosa?

Incentivado por amigos resolvi escrever também causos particulares vivenciados ao longo dos anos. Alguns relatos são hilários, e dignos de levar ao programa Que História é Essa, Porchat. Seguem os causos em forma de coletânea.

Editorial, Geral, O Baú de um Repórter

O baú de um repórter

Das minhas lembranças da redação do Diário de Natal uma não posso esquecer. Era editor de Economia na época. O diretor de redação era Alfredo Lobo – já falecido -, com quem aprendi muito. A editoria de Economia só tinha um repórter: Luciano Kleiber. Aprendi uma coisa no dia-a-dia da redação que matéria boa tem que ser aquela difícil de ser apurada. O repórter tem que ir atrás, investigar, consultar fontes. Vamos aos fatos:

O dia em que as dívidas da usina de Geraldo Melo vieram a público

Quando editor de Economia e de Política sempre cultivei o hábito de trocar idéias com os repórteres. Embora pautasse eles deixava-os à vontade para sugerirem outras pautas. Nesse dia Luciano Kleiber chegou pra mim e disse que estava apurando uma matéria quentíssima. As dívidas da usina São Francisco junto ao Banco do Brasil do então senador Geraldo Melo (PSDB-RN). Disse pra ele: Vá em frente. Apure o que você puder que quando chegar na redação me entendo com Lobo. A matéria era delicada porque Geraldo Melo tinha muita amizade com o jornalista Albimar Furtado, então diretor-geral do jornal. Albimar tinha sido seu secretário de Comunicação quando Melo foi governador do Rio Grande do Norte.

Mas em jornalismo você não pode misturar as coisas. Kleiber então vai atrás do material. Chega na redação com documentos que uma fonte sua havia lhe passado a respeito da dívida da usina junto ao BB. Não lembro de quanto era a dívida, sei que era altíssima. Me mostra e senta na máquina de escrever para digitar o texto. Nessa época não havia ainda computador. Me pergunta ele quantas laudas. Eu lhe disse que fizesse o que rendesse. Teminado o texto Luciano Kleiber me mostra. Nitroglicerina pura. Que fiz eu: Fui mostrar a Alfredo Lobo. Ele dá o OK para editar a matéria.

Só que quando começo a editar o telefone da sala de Alfredo Lobo toca. Era Geraldo Melo. Alguém o avisou sobre a reportagem. Queria impedir da matéria sair a qualquer custo. A conversa durou uns 40 minutos. Da minha mesa na redação dava pra ver a cara de zangão de Lobo dentro do aquário – é a sala com um vidro enorme onde o diretor de redação fica. Alfredo Lobo de vez em quando olhava pra mim e fazia o sinal para uma pausa na edição. Fico lá na maior ansiedade. Já tinha pedido ao laboratório uma foto de arquivo da usina São Francisco. A diagramação da página já estava feita. Pensei: Vai ser manchete do jornal. Pelo menos da página de Economia.

Passados os 40 minutos Lobo desliga o telefone com cara de mau e faz o OK. A matéria foi liberada. No entanto, não chegou a ser manchete da página e muito menos do jornal. Sequer mereceu uma chamada de capa. Foi reduzida a duas colunas no alto à esquerda da página de Economia. Mas saiu. O importante é que apesar de toda a pressão a matéria foi publicada. Resultado: Alfredo Lobo não demorou muito a deixar o Diário de Natal. As pressões foram tantas que acabou sendo demitido. 

Moral da história: Às vezes se paga um preço muito alto por fazer um jornalismo sério e comprometido só com o leitor.

Obs do blog: O web-leitor que quiser saber mais sobre os bastidores da notícia é só ir em BUSCA na coluna à direita do blog e acessar a palavra baú.

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