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1964, do que ficou na minha retina
Lá se vão longos 50 anos do Golpe Militar. Na época tinha apenas 7 anos e não entendia direito o que se passava. Lembro apenas que morava na rua Felipe Camarão, Centro de Natal, num prédio de quatro andares, talvez um dos primeiros da capital potiguar que ainda insiste em resistir ao tempo. O meu andar era o terceiro. Salvo engano eram quatro apartamentos por andar. Embaixo do edifício tinha uma alfaiataria conhecida como “Alfaiataria do Sr. Pompilho, que era, inclusive, o dono de todo o prédio.
Poucas horas de ter estourado o golpe, me recordo como hoje que um jipe do Exército estacionou na frente do edifício – a janela do apartamento em que morava dava para a Felipe Camarão – desceram três soldados com fuzis em punho. A missão deles: levar o meu vizinho de porta preso. Na época não sabia o que estava acontecendo. Meus pais e nem meus irmãos comentavam nada. Não sabia nem que o meu vizinho que acabara de ser preso era comunista ou qualquer coisa que o valha. Confesso que passados todos estes anos nem eu sei o por que dele ter sido preso. Me recordo apenas que gostava de tocar violão e que seu nome era William. Meus pais, inclusive, frequentavam a sua casa. O nome de sua esposa era Aglais (dona Aglais, como eu a chamava), se não me falha a memória. Tinha dois filhos, mais novos do que eu.
64 me traz ainda a lembrança de que nas primeiras horas do golpe militar se percebia nas ruas jipes do Exército e soldados armados principalmente no centro da cidade. Costumava sair as ruas com a minha mãe para ir ao comércio com ela e me lembro de ter presenciado isso. Como era criança não entendia bem o que se passava e a minha mãe muito menos se preocupava em dizer o que estava ocorrendo. Melhor ficar calado nestas horas. Fato é que as imagens que tenho guardadas até hoje são de dias sombrios. Meus irmãos, adolescentes, curtiam a Jovem Guarda. Na vitrola, como se dizia antigamente, só Roberto Carlos, Os Incríveis, Beatles e Rolling Stones e outros menos votados.
Neste mesmo ano fui morar no Tirol. Até 67 residi em Natal, Depois fui morar no Rio, onde vivi minha adolescência. Só então comecei a entender o que se passava no Brasil. Já em 68, no Rio, tomei conhecimento da passeata dos 100 mil ocorrida na avenida Rio Branco. Um movimento de estudantes secundaristas e universitários contra a ditadura militar. Até então não era politizado. Passei a ser depois do que comecei a perceber. Lembro que já em 1970, com o general Garrastazu Médice, presidente do país, o Brasil vivia momentos de “euforia” com a conquista do tri-campeonato pela seleção brasileira em campos do México. Médice, aproveitando-se do momento ia ao Maracanã – dizia-se torcedor do Flamengo, clube do qual eu torço – e era aplaudido ao ter seu nome anunciado nos altos falantes do estádio. No entanto, nos bastidores do governo o que ocorria era um verdadeiro massacre daqueles que eram contra o regime. Perseguição, tortura e mortes.
Hoje, após 50 anos do golpe militar, gostaria de apagar isso da minha retina. Mas não há como. Melhor ironizar como a charge de Benett, publicada acima.
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