Economia, Editorial, O Baú de um Repórter

O baú de um repórter

Era eu editor de Economia do Diário de Natal quando um dia me chegou as mãos uma carta-denúncia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiania, interior do Rio Grande do Norte, dando conta de que uma usina de açúcar da Paraíba estava contratando menores para trabalhar no corte da cana-de-açúcar. Me interessei pelo assunto e me dispus a fazer a reportagem. Vamos ao fato:

O dia em que fui fazer uma matéria sobre a exploração de mão-de-0bra infantil no corte da cana-de-açúcar

Interessado que estava para fazer a matéria liguei para o sindicato para marcar o dia e a hora em que iria junto com um fotógrafo do jornal. Segundo as informações que obtive, os caminhões gaiolas vinham pegar os menores em Goiânica para levar para o campo na divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba pela madrugada, coisa assim de umas 4h. Agendei então com a direção do sindicato para irmos direto ao campo, já que o que interessava era registrar os menores no corte da cana.

Dia e hora combinados lá fui eu e o fotógrafo Carlos Silva fazer a matéria. Chegamos na sede do sindicato por volta das 7h. O presidente do sindicato entrou no carro da reportagem e fomos onde ele indicou que estava havendo o trabalho de menores no corte da cana. Na primeira lavoura não encontramos nada. Prosseguimos a viagem, e quando nos aproximamos de uma outra área onde estava havendo o corte percebemos uma certa movimentação estranha. De longe, no entanto, não dava para identificar se eram menores. Chegamos ao local e só tinha três cortadores de cana, todos de maior. Desconfiamos que alí tinha menores trabalhando. Mas como a área era muito grande e estava coberta de cana-de-açucar não deu para vasculhar o local.

Decidimos então ir a uma outra lavoura, essa mais próximo ainda da divida dos dois estados. Pra nossa frustração também não encontrmos nenhum menor. Desconfiamos então que alguém vazou a informação de que iríamos fazer uma reportagem sobre a presença de menores no corte de cana em terras do Rio Grande do Norte. Não satisfeito decidi fazer a matéria assim mesmo. Comecei a ouvir os trabalhadores que se encontravam no local. Eles, assim como que com medo de falar alguma coisa respondiam as minhas perguntas pausadamente. A maioria deles disse não saber de nada.

Carlos Silva fez as fotos e antes de voltarmos para Natal ouvi o presidente do Sindicato. Ele confirmou tudo o que havia na carta enviada à redação. Retornando à Natal fui na DRT [Delegacia Regional do Trabalho] para completar a matéria. Lá me informaram que a mesma denúncia havia chegado por lá e que fiscais já estavam em campo para realizar a fiscalização. Não tive dúvida. Com o material que tinha fui direto para a redação. Fiz a matéria que acabou sendo destaque de Economia no dia seguinte no jornal. Infelizmente, depois acompanhei todo o caso mas não resultou em nada. Acho que a reportagem repercutiu e a usina se precaveu e não colocou mais menores para trabalhar na lavoura.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias do báu de um repórter é só ir em BUSCA e digtar uma palavra-chave tipo baú.

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