Editorial, O Baú de um Repórter, Política

O baú de um repórter

Dentre as coberturas jornalísticas que eu fiz quando repórter de Política do Diário de Natal, uma delas me fez esquecer que estava na cobertura do fato como profissional tão era a empolgação e a emoção. Trata-se do impeachment de Collor. Fui escalado para acompanhar a votação do impeachment no calçadão da João Pessoa, centro de Natal, onde a CUT [Central Única dos Trabalhadores] salvo engano, instalou um telão para as pessoas acompanharem. Vamos ao fato:

O dia em que me emocionei ao cobrir o impeachment de Collor como repórter do DN

Em 26 de agosto de 1992 o relatório final da “CPI do PC” foi aprovado e nele constava a informação de que o presidente da República e seus familiares tiveram despesas pessoais pagas pelo dinheiro recolhido ilegalmente pelo “esquema PC” que distribuía tais recursos por meio de uma intrincada rede de “laranjas” e de “contas fantasmas”. Como exemplos materiais desse favorecimento foram citadas a reforma na “Casa da Dinda” [residência de Fernando Collor em Brasília] e a compra de um automóvel Fiat Elba. Cópias do relatório foram entregues para a Câmara dos Deputados e para a Procuradoria Geral da República e um pedido de impeachment foi formulado tendo como signatários o o saudoso jornalista Barbosa Lima Sobrinho, presidente da ABI [Associação Brasileira de Imprensa], e o advogado Marcelo Lavenére, presidente da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Entregue ao deputado Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara dos Deputados, o pedido de abertura do processo de impeachment foi aprovado em 29 de setembro por 441 votos a favor e 38 votos contra, com uma abstensão e 23 ausências.

Sobre o dia da votação [transmitida para todo o país pelos meios de comunicação] vale registrar que a mesma transcorreu sob a égide do voto aberto e isso fez com que os deputados pensassem em sua sobrevivência política dada a proximidade das eleições municipais de 1992 e o desejo de reeleição em 1994, assim muitos parlamentares optaram pelo “sim” no momento decisivo apesar de promessas em sentido contrário, ou seja, votos que eram contabilizados para o governo migraram para o bloco do impeachment, dois dos quais merecem destaque o caso do deputado Onaireves Moura (PTB – PR), que dias antes organizara um jantar de desagravo ao presidente e a seguir o voto do alagoano Cleto Falcão, ex-líder do PRN na Câmara e amigo íntimo de Collor, demonstrando assim o total isolamento do presidente. Para aprovar a abertura do processo de impeachment seriam necessários 336 votos e o sufrágio decisivo ficou a cargo do deputado Paulo Romano do ex-PFL mineiro, hoje DEM.

Afastado da presidência da República em 2 de outubro, foi julgado pelo Senado Federal em 29 de dezembro de 1992. Como último recurso para preservar seus direitos políticos, Collor renunciou ao mandato antes do início do julgamento, mas a sessão teve continuidade. O julgamento foi polêmico e alguns juristas consideraram que o julgamento, após a renúncia, não deveria ter acontecido. Foi condenado a perda do cargo e a uma inabilitação política de oito anos pelo placar de 76 votos a 5 numa sessão presidida pelo ministro Sidney Sanches, presidente do STF [Supremo Tribunal Federal]. Retificando o resultado do julgamento, foi publicada a Resolução nº101 do Senado Federal, no DCN [Diário do Congresso Nacional], Seção 11, do dia 30/12/1992, Art. 1º, que considerou prejudicado o pedido de aplicação da sanção de perda do cargo de presidente da República, em virtude da renúncia ao mandato. Seu desgosto com o afastamento foi tamanho que ele chegou a pensar em suicídio, conforme entrevista dada ao programa Fantástico da Rede Globo em 2005.

Naquele 29 de dezembro de 1992 as ruas do centro de Natal estavam tomadas de gente. Sobre a carroceria de um caminhão-truncado um grande telão no calçadão da rua João Pessoa retransmitia a sessão histórica do Senado. A cada voto favorável ao impeachment de Collor era uma vibração e a cada voto contrário uma sonora vaia. Eu e meus colegas repórteres do DN – não só da editoria Política mas como de Cidade fomos escalados para a cobertura. Cada um com uma pauta diferente. A minha era exatamente acompanhar a votação e a manifestação do público. Na minha memória ainda guardo a festa cívica que tomou conta da cidade após o resultado da votação que levou Fernando Collor de Melo, hoje senador por Alagoas, ao impeachment.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras histórias do baú de um repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita do blog e digitar uma palavra-chave tipo baú.

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