Editorial, Geral, O Baú de um Repórter

O baú de um repórter

Seguindo a linha proposta pelo esapaço criado no Blog denominado de “o baú de um repórter”, retomo as minhas memórias contando um fato de certa forma até engraçado. Na época era editor de Economia do jornal Diário de Natal, e fui convidado pelo amigo e colega Flávio Marinho para fazer uma matéria sobre Fernando de Noronha, com todas as despesas pagas. Vamos ao fato:

O dia em que fui a Fernando de Noronha para fazer uma reportagem

O jornalista Flávio Marinho me convidou para fazer uma matéria sobre Fernando de Noronha. A viagem foi custeada por uma agência de turismo de Natal (RN), interessada em divulgar o potencial turístico do arquipélago, pois vendia pacotes pra lá. Marinho foi com a sua esposa e seus dois filhos – na época menores – e eu com a minha mulher. Como iria trabalhar fiquei isento da taxa diária que se paga por permanência na ilha. A minha esposa eu a coloquei como sendo fotógrafa, para também ser isenta da taxa.

Ao chegarmos a Noronha – fomos de avião – fomos distribuídos em pousadas diferentes. Eu e a minha companheira ficamos hospedados numa pousada cuja dona era uma pernambucana, presidente do Conselho de Mulheres da ilha e muito bem politizada. Fiz logo amizade com ela. No dia em que chegamos – era uma sexta-feira a tarde – tinha um paulista hospedado lá. Mas ele iria viajar no sábado de volta à São Paulo. No jantar fomos seus convidados. O sujeito tinha comprado um monte de lagostas para levar e nos brindou com algumas delas. Foi uma outra amizade que fiz.

Flávio Marinho entusiasmado com a reportagem que eu iria fazer, combinou que ouvisse os ilhéus, gente com representatividade em Noronha, como a própria dona da pousada em que fiquei e o presidente do Conselho Comunitário. Pois muito bem: Essa viagem foi em meados de agosto, salvo engano. Em dezembro do ano anterior o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tinha estado na ilha e prometera fazer o recapeamento asfáltico do acesso do aeroporto para as pousadas. Passados oito meses nada disso tinha sido feito. Observei logo a buraqueira no trajeto que fizemos do aeroporto até a pousada. Como ouvi os ilhéus a reclamação era muita. Não só isso, mas também o fato da desatenção do governo de Pernambuco com o arquipélago. O governo pernambucano é quem administra a ilha.

Claro que como manda o bom jornalismo fomos ouvir o lado oficial também. Agendamos uma entrevista com o administrador da ilha – o representante do governo de Pernambuco – que, ao contrário dos ilhéus falou bem dos governos de Pernambuco e federal, e de supostos investimentos que estariam pra chegar ao arquipélago, como no caso o recapeamento asfáltico.

Retornamos a Natal na segunda-feira, à tarde. Na quarta-, ao chegar na redação do DN combinei com o editor de Cidades, Gerson de Castro para a matéria sair no domingo, no antigo O Poti. Moura Neto, que hoje atua na redação da assessoria de imprensa do governo do Rio Grande do Norte, era sub-editor de Cidades. Como eu era editor de Economia fiz apenas o texto e entreguei a Moura  encarregado de editar a matéria na sexta-feira para sair no domingo.

Passei o texto e indiquei as fotos para ele. Fiquei tranquilo, sabedor da competência do amigo e colega. A matéria incluia um serviço, com informações sobre as agências e a empresa aérea que atuam em Fernando de Noronha. No domingo fui surpreendido com umna ligação de Flácvio Marinho logo as primeiras horas da manhã. Pensei, claro, se tratar de um elogio pela reportagem. Qual nada. Puto da vida, Marinho me pergunta: “Já leu o jornal?” Eu disse não, por que? “Porra”, diz ele. “No serviço da matéria não saiu o nome da agência de turismo que patrocinou a nossa viagem. E o pior: Saiu o nome da concorrente. Tô fudido. Os caras amanhã vão tirar o resto de cabelo que ainda tem na minha cabeça”, sentenciou. Tratei então de pegar o jornal na portaria do meu edifício e ler detalhadamente a matéria. Flávio Marinho estava coberto de razão.

Liguei pra Moura Neto pra saber o que havia ocorrido. Ele me disse que por falta de espaço e para não prejudicar o conteúdo da reportagem, teve que cortar uma parte do serviço oferecido, e que no caso, como ele não sabia – e aí faço uma mea culpa – tirou o nome exatamente da agência que patrocinou a viagem. Desde esse dia sempre que encontro Flávio Marinho pergunto a ele quando ele vai me chamar pra fazer outra reportagem em Noronha. Ele brinca e diz: “Daquelas que você fez nunca mais”.

Obs do blog: O web-leitor que quiser encontrar outras memórias deste escriba, é só ir em BUSCA na coluna à direita do blog e digitar uma palavra-chave tipo baú.

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