Editorial, O Baú de um Repórter, Política

O baú de um repórter

Hoje vou me reportar a um assunto que rendeu na imprensa potiguar, mais espeficamente em Natal e Parnamirim, na Grande Natal. Trata-se das denúncias formuladas pelo então vereador Ricardo Gurgel, primo da governadora do Rio Grande do Norte Wilma de Faria (PSB), contra o então prefeito parnamirinense Agnelo Alves, tio do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Vamos ao fato:

O dia em que o JH revolucionou o jornalismo potiguar

Estava eu para começar a trabalhar como editor de Política do JH Primeira Edição em sua primeira fase, ainda como jornal tablóide. Isso era uma segunda-feira. O amigo e colega Flávio Marinho, a quem me convidara para assumir o seu lugar porque iria cuidar da sua empresa de assessoria, me pediu para ir até a redação do jornal um dia antes de assumir a editoria. Ele queria conversar comigo e apresentar os repórteres – Daniela Freire e Alex Viana. Eram por volta das 15h quando cheguei ao jornal. Marinho já estava me aguardando. Conversamos, ele me detalhou todo o esquema de trabalho da editoria, tipo assim hora do deadline – prazo para a entrega das matérias – e o fechamento da edição.

Quando acabamos de conversar ainda fiquei um pouco na redação conversando com Edilson Braga, então editor-geral do JH. Sobre à mesa de Braga alguns jornais. Um deles me despertou a atenção pela manchete. Era o jornal O Metropolitano, um tablóide semanal que circula na Grande Natal. A machete tratava de uma denúncia do então vereador Ricardo Gurgel contra o então prefeito de Parnamirim Agnelo Alves. Falava sobre cobrança de propina por parte de auxiliares diretos do alcaide. Aquilo não só me despertou a atenção como também me antecipei já à pauta que iria passar no dia seguinte para a editoria de Política. Chamei Alex Viana e já pautei ele. Disse que procurasse o vereador Ricardo Gurgel e fizesse com ele uma grande matéria sobre as denúncias que fizera contra a administração Agnelo Alves.

Na terça-feira, já como editor de Política do JH, Alex me disse que tinha falado com ele por telefone e maracara uma entrevista naquele mesmo dia. Solicitei um fotógrafo e lá foi Alex e o fotógrafo para aquela que seria uma entrevista que renderia uma série de outras denúncias. O JH Primeira Edição na quarta-feira deu Ibope. A procura pela edição naquele dia foi tão grande que esgotou-se nas bancas.

Agnelo Alves tentava apagar os incêndios provocados pelas denúncias do vereador Ricardo Gurgel de que havia cobrança de propina na administração de Parnamirim. Os auxiliares do prefeito chegaram a colocar os cargos à disposição para que o caso fosse apurado livre de qualquer pressão ou influência. Na Câmara Municipal de Parnamirim, a operação-abafa entrou em curso. Poucos acreditavam na instalação de uma CEI – Comissão Especial de Inquérito – para investigar o ‘propinoduto’ denunciado por Gurgel.

Enfim, o assunto rendeu por um longo período a ponto do prefeito Agnelo Alves proibir a leitura do JH Primeira Edição nas secretarias municipais. O jornal não entrava nas repartições para que os servidores não tivessem conhecimento do que estava ocorrendo. O JH iniciava alí um novo período na imprensa potiguar. O jornalismo investigativo. O repórter Alex Viana entrou fundo nas investigações que renderam excelentes matérias.

Não posso me queixar do curto período que passei no JH Primeira Edição – apenas dois anos -, mas com toda certeza participei de uma fase histórica do jornalismo potiguar. Como dizia Edilson Braga o JH revolucionou a maneira de fazer jornalismo no Rio Grande do Norte. Pena que essa fase acabou. As pressões econômicas e políticas foram muitas e a direção do jornal acabou se rendendo.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita do Blog e digitar uma palavra-chave tipo baú.

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