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Lembro hoje na série O Baú de um Repórter a morte do saudoso Tancredo Neves. Era ainda repórter da extinta EBN [Empresa Brasileira de Notícias] – depois assumi a gerência da sucursal no Rio Grande do Norte – quando pouco antes de assumir à Presidência da República em 1985, o velho político mineiro faleceu. Vamos ao fato:
O dia em que Tancredo morreu
Já passavam das 23 h do dia 21 de abril de 1985 – um domingo – quando a Globo, em edição extraordinária noticiou a morte de Tancredo Neves. Em 15 de janeiro do mesmo ano fora eleito presidente por um Colégio Eleitoral recebendo 480 votos contra 180 de Paulo Maluf, mas não chegou a tomar posse, pois na véspera teve que ser internado para depois de 38 dias hospitalizado e sofrer sete cirurgias, morrer sem realizar o sonho de uma vida inteira.
Estava em casa assistindo o Fantástico quando o telefone tocou. Já imaginava que fosse o colega e amigo Roberto Machado, então gerente da sucursal da EBN no RN. Atendi a ligação e Machado pergunta: “Já está sabendo Barbosa … Não deixei nem ele completar. Respondi que já tinha conhecimento da morte de Tancredo. Machado diz pra mim ir para o escritório da EBN que ficava no Edifício Cidade do Natal, na rua João Pessoa, centro da capital potiguar. Lá íamos eu, ele e Luiz Antônio Felipe, também repórter da EBN, repercutir o falecimento de Tancredo Neves com os políticos do estado. Governador, deputados e senadores. Quem a gente pudesse ouvir. No sábado mesmo Machado já havia nos alertado da gravidade do quadro e disse para ficarmos de sobreaviso.
Peguei o meu carro e fui direto para a EBN. Começamos então a telefonar para os políticos. Embora a hora avançada, todos foram receptivos às nossas ligações já que o mundo político tinha conhecimento do ocorrido naquele domingo. Na época, o laudo médico apontava para uma diverticulite aguda perfurada a causa da morte de Tancredo, laudo que foi desmentido 20 anos depois, quando os médicos relataram que o motivo da morte do presidente tinha sido um tumor, um leiomioma benigno, mas infectado. Naquele fatídico 21 de abril o Brasil perdia o primeiro presidente eleito pós-ditadura, seu vice, José Sarney assumiu o governo.
Em entrevista recente à Rádio Metrópole, em Salvador (BA), transcrita por Bob Fernandes no Terra Magazine o governasdor de Minas Aécio Neves, neto de Tancredo disse que seu avó hospitalizado na véspera de tomar posse na Presidência da República, vitima de uma aparentemente banal crise de diveticulite, não parou mais de sofrer até a morte, depois de sucessivas falhas médicas e hospitalares que beiraram o absurdo”, segundo o governador mineiro.
“Eu não merecia isso!”. Segundo Aécio foram estas as últimas palavras ditas por seu avô, segurando seu braço, nos derradeiros momentos de vida. No dia seguinte à cirurgia realizada no Hospital de Base de Brasília, o presidente pressentiu o desastre ao levantar-se do leito pela primeira vez: “Rompeu tudo”, disse Tancredo ao neto, ao sentir que os pontos da cirurgia se haviam rompido. Depois foram mais sete sofridas cirurgias nas mãos de profissionais sem competência técnica e em hospital sem controle e organização gerencial. Aécio ficou compungido até quase as lágrimas ao recordar que mais de 40 pessoas tiveram acesso à area restrita onde o presidente Tancredo estava internado em tratamento de alto risco de infecção.
Quando Tancredo estava sendo transferido de maca do apartamento para o centro cirúrgico do HB, alguém que a família não conseguiu identificar, chegou a levantar o lençol que cobria o rosto do presidente, para ver o seu estado. “Algo incrível”, falou com voz embargada o governador de Minas. Foi então que a família decidiu, a qualquer custo, transferir o presidente eleito para o Hospital das Clínicas, em São Paulo .
Mas já era tarde demais. No hospital paulista os sofrimentos de Tancredo Neves continuaram, até o suspiro final.
“O resto todo o povo brasileiro conhece”, disse Aécio Neves na entrevista na Metrópole.
Vinte anos depois da morte de Tancredo, o patologista Élcio Mizziara admitiu que escondeu o diagnóstico: “Eu, disse: ‘Eu posso fazer uma coisa, que contraria o código de ética médica. Mas, considerando a situação atual, com o medo de que nós não tenhamos a posse do presidente… Porque se for divulgado que ele tem um tumor, e não importa naquele momento se é um tumor benigno ou maligno, basta dizer para o público que é um tumor, então vão dizer que o homem está com câncer, e ele vai morrer. Então eu faço o seguinte: eu faço um outro laudo. Esse outro laudo eu faço um laudo igualzinho a esse, só que, ao invés de eu colocar: leiomioma infectado etc. e tal, eu vou colocar diverticulite aguda perfurada.’”
“Eu acho que os médicos também fizeram uma leitura política. Até por serem de Brasília, eles perceberam a bomba atômica que era a não posse do doutor Tancredo. Acabou gerando um desgastante e desnecessário jogo de insegurança, de suspeição, e abriu caminho para as lendas: o tiro, o envenenamento, esse monte de lendas”, observou o jornalista Antônio Brito, ex-porta-voz de Tancredo.
A verdade é que a morte de Tancredo Neves é coberta de mistérios que até hoje ninguém sabe explicar. Diz-se até que a jornalista Glória Maria, então na Globo, sabia demais e a emissora mandou ela depois ser correspondente no exterior.
Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita do Blog e digitar uma palavra-chave tipo baú.
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