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Jornalismo tem cada coisa que a gente mesmo sendo jornalista custa a acreditar. Quando trabalhei na assessoria de imprensa no segundo governo Garibaldi (PMDB) no Rio Grande do Norte presenciei – sem querer – a conversa entre três repórteres de jornais de fora que vieram ao estado fazer a cobertura de um laçamento de uma obra do governo federal com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso. A conversa era sobre a cobertura. Vamos ao fato:

Repórteres combinam foco de cobertura jornalísitca

Acontecia um evento no interior do estado – salvo engano o lançamento da adutora Sertão/Cabugi na cidade de Angicos – e o governo do estado tinha montado um escritório de apoio próximo ao palanque onde iriam acontecer os pronunciamentos com toda a estrutura para a imprensa. Pouco antes de se iniciar o evento, já com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Garibaldi Alves na cidade, escutei a conversa de três repórteres de jornais de São Paulo e do Rio a respeito dos textos que iriam fazer. Os três combinavam que iriam dar a mesma conotação para o discurso do presidente.

Guardei aquilo comigo e fiquei a imaginar que o leitor, de certa forma, no dia seguinte ao abrir os jornais em que os jornalistas trabalhavam iriam acreditar que os repórteres que escreveram os textos tinham a mesma leitura. Ledo engano! Não sabiam os leitores que tudo havia sido combinado. Ou seja, dar o mesmo tom as matérias. Certamente para não deixar dúvidas de que estiveram cobrindo o mesmo evento. Ou, na pior das hipóteses: Não deixar passar algo despercebido por um ou por outro. Daí a combinação de textos.

Achei aquilo um absurdo. Até porque o presidente poderia falar uma coisa que de repente um determinado repórter achasse interesante e colocasse no lead de sua matéria. Mas como haviam combinado de dar a mesma conotação aos textos, claro e óbvio que depois da solenidade os três voltaram a conversar para discutir o gancho da matéria. Acredito que isso deva ocorrer até hoje. Basta comparar os textos dos principais jornais do país quando o assunto é algum pronunciamento do presidente Lula. Algo inimaginável para o leitor leigo, mas infelizmente acontece isso na grande imprensa escrita.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita e digitar uma palavra-chave tipo Baú