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Os bastidores do jornalismo político revelam muita coisa interessante para quem trabalha no meio. Desde armações políticas até a “fabricação” de uma candidatura. Nesse ramo se vê e se ouve muita coisa que só podem ser contadas em momentos oportunos. Mas vamos ao fato:
Como se “fabrica” um candidato
Eleições para prefeito de 2004. Em Natal (RN), praticamente a eleição era plebiscitária disputando o cargo o prefeito Carlos Eduardo Alves, então no PSB, candidato a reeleição, e o deputado estadual Luiz Almir, também então no PSDB. Os outros candidatos eram nomes inexpressivos na política natalense e potiguar.
Foi então que o dono dos jornais JH Primeira Edição e O Jornal de Hoje, jornalista Marcos Aurélio de Sá resolveu investir no que se pode chamar de um “anti-candidato”. Miguel Mossoró, do Partido Trabalhista Cristão (PTC), sargento reformado do Exército, e que acumulou experiência atuando em conselhos de bairros da capital e que resolveu sair candidato a prefeito de Natal naquela eleição. Com propostas mirabolantes tipo construir uma ponte ligando a capital do Rio Grande do Norte ao arquipélago de Fernando de Noronha de tanto ter espaço nos dois jornais de Marco Aurélio – um matutino outro vespertino – acabou ganhando a simpatia do eleitorado. Todos os dias saiam matérias com Miguel Mossoró nos dois jornais.
O JH Primeira Edição e O Jornal de Hoje começaram então a pautar a imprensa natalense que se viu obrigada a dar espaços também a Mossoró, embora em menor número. A “brincadeira” de Marcos Aurélio acabou surtindo efeito. O anti-candidato passou a ser o preferido dos eleitores que não simpatizavam com as candidaturas de Carlos Eduardo Alves e Luiz Almir.
Miguel Mossoró passou então a ser chamado para entrevistas em emissoras de rádio e televisão. Sempre bem humorado e com suas propostas absurdas conquistou os eleitores. Resultado: Mossoró acabou provocando o segundo turno com a soma dos seus votos levando a Carlos Eduardo Alves e Luiz Almir a uma disputa final, que acabou dando a vitória a Carlos Eduardo Alves. Mossoró ficou em terceiro lugar nesta eleição onde disputavam oito candidatos. Na eleição de 2006 para governador Miguel Mossoró tentou uma cadeira na Assembléia Legislativa, mas acabou tento uma votação pífia.
Anos depois conversando com colegas de redação do JH Primeira Edição, jornal que trabalhei durante dois anos, soube que Marcos Aurélio se empolgava pelo fato dos seus jornais terem “criado” o anti-candidato e que acabou tendo uma grande repercussão, inclusive, nacionalmente. Anti-candidato esse que provocou o segundo turno numa eleição que tinha tudo para ser decidida em primeiro turno.
Esse fato já é de conhecimento público, mas faço questão de lembrar porque muitas pessoas principalmente aquelas que não são jornalistas, desconhecem como surgiu o “fenômeno” Miguel Mossoró. Isso é o que se pode chamar dos bastidores da notícia.
Obs do blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita e digitar uma palavra-chave tipo Baú
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