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por Leonardo Attuch, no Brasil 247
O Brasil vive o momento crucial de sua história. A prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), marca não apenas o desfecho de um capítulo da trama golpista, mas também o início de uma prova de fogo para a soberania nacional. Enquanto o país busca afirmar seu caminho no tabuleiro internacional, o governo do presidente Donald Trump reage, defendendo Bolsonaro, seu vassalo ideal, e testando os limites da autonomia brasileira.
A decisão de Moraes, tomada após o reiterado descumprimento de medidas cautelares, transformou Bolsonaro em réu sob vigilância domiciliar. Além da tornozeleira eletrônica, o ex-mandatário teve os celulares apreendidos e está proibido de receber visitas, salvo familiares e advogados. A medida ocorre em meio a um inquérito que apura sua articulação com o governo norte-americano para atacar o Supremo e interferir na política brasileira.
A reação da Casa Branca foi imediata. Em nota oficial, o governo Trump atacou Alexandre de Moraes, chamando-o de “violador de direitos humanos” e prometendo responsabilizar “todos aqueles que auxiliarem e incentivarem a conduta sancionada”. A mensagem deixa claro que Bolsonaro é visto por Trump não apenas como aliado ideológico, mas como peça estratégica para manter o Brasil na órbita de Washington — e que a prisão do ex-presidente será tratada como afronta direta aos interesses norte-americanos.
Entretanto, a história ensina que países não têm amigos, têm apenas interesses. E os interesses do governo Trump no Brasil são claros: garantir acesso a recursos estratégicos, como os minerais das terras raras, manter mercados abertos às suas empresas e impedir que o país consolide uma autonomia que desafie a lógica histórica de um Brasil como quintal do Império.
Nesse contexto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem enviado sinais de pragmatismo. Ao mesmo tempo em que ressalta que o Brasil não será “colônia”, admitiu a disposição de ampliar parcerias com os Estados Unidos na exploração de terras raras e na produção de baterias de alta eficiência. Trata-se de uma tentativa de equilibrar soberania e diplomacia, sem ignorar o peso econômico e militar de Washington.
Enquanto o governo busca se equilibrar, setores da elite econômica — representados por CNI e Fiesp — defendem explicitamente uma composição com Trump. Ricardo Alban e Paulo Skaf, presidente da CNI e presidente eleito da Fiesp, já sinalizaram que desejam abrir negociações em áreas estratégicas, que vão desde big techs e tributação internacional até o acesso a minerais críticos, como terras raras e nióbio.
O desafio do governo é utilizar a diplomacia empresarial para reduzir tensões e evitar retaliações mais severas, especialmente diante do tarifaço de 50% que ameaça exportações brasileiras. Neste contexto, o presidente Lula enfrenta agora um dilema central. De um lado, está a defesa da soberania nacional, que exige não se submeter a imposições externas. De outro, há o pragmatismo necessário para proteger empregos, investimentos e estabilidade econômica.
O momento exige tranquilidade e uma certa dose de flexibilidade: manter a firmeza na defesa dos interesses nacionais, mas abrir canais de negociação capazes de reduzir tensões e transformar pressões em oportunidades. O Brasil não precisa escolher entre isolamento e submissão; pode adotar uma diplomacia que combine autonomia e diálogo, construindo pontes onde antes só havia dependência.
Se souber equilibrar esses elementos, o país poderá atravessar a tempestade atual, sendo também capaz de transformar o episódio da prisão de Bolsonaro e a reação de Washington em mais um passo na construção de uma soberania madura, pragmática e adaptada a um mundo multipolar.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247
Foto reproduzida da Internet
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