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Artigo

Ramagem e Bolsonaro, os inseparáveis

por Denise Assis, no Brasil 247

Por que o depoimento do (ainda) deputado federal Alexandre Ramagem e (ainda) candidato à prefeitura do Rio não está na primeira página de O Globo? Pelo contrário. Foi parar no pé da página 9, do primeiro caderno, o que trata de política. 

Não interessa a esse grupo de mídia os escândalos envolvendo Bolsonaro. Nas contas que fazem, esse ano terminou engolfado pelas eleições que começam já, o seguinte é o ano em que os políticos ajeitam as próprias biografias – e, portanto, não é hora de arrumar barulho -, e o seguinte, então! É a hora da onça beber água, para ficar em um animal revisitado por esses dias.

Ramagem, eles talvez tenham razão, não deveria mesmo estar mais frequentando as páginas da editoria de política, mas as policiais. Mas, enquanto não é rifado pela (ainda) proeminente família do balacobaco, segue fingindo que é candidato. Afinal, precisa salvar a própria pele. Enquanto estiver nessa condição, segura o cargo – o de deputado – e a vida, pois como todos sabemos, brigar com os “bolsonaros” num corredor pode resultar por demais perigoso.

Essa é uma via de mão dupla. Bolsonaro não sabe – ou sabe? – o que pode ter além dos dados da arapongagem, no laptop de Ramagem. Aquele, em quem o ex-presidente dizia confiar a ponto de tentar nomeá-lo para o comando da Polícia Federal. Ironia. Ramagem ontem entrou pelos seus portões, não como chefe da instituição, como esteve a um passo, na era bolsonarista, mas como interrogado de um questionário de mais de 100 perguntas, com seis horas e meia de duração. 

Não se tem notícia do que ele disse. Sabe-se, no entanto, que disse muita coisa. E havia temas para os mais variados gostos: do episódio de Juiz de Fora à espionagem vulgar de aliados dele e de Bolsonaro. No mundo dessa gente, todos andam de fasto. Ninguém se vira, para não ser apunhalado. São as regras do jogo do submundo…

É possível que no cardápio de Ramagem tenham entrado todos os temas relativos aos crimes da passagem do “mito” pelo poder: roubo de joias, falsificação do cartão de vacina, arapongagem da grossa, conspiração golpista, crimes da Covid-19, sobrepreço de vacinas e outros menos frequentemente citados. Sabe muito, esse rapaz.

Amanhã (19/07), quando – e se – estiverem percorrendo as ruas do bairro da Tijuca, recheadas de milicos aposentados, pode ser que um diga para o outro impropérios entredentes, enquanto Ramagem procurará manter congelado nos lábios o sorriso de candidato. Certo, porém, é que Ramagem não poderá se desgrudar do braço do ex-chefe – sua atual garantia de liberdade e (ainda) algum prestígio, enquanto Bolsonaro não pode perdê-lo de vista, pois Ramagem detém informações explosivas a seu respeito.

Eis que Alexandre Ramagem se tornou para Bolsonaro o mesmo que o seu ex-quase vice, Walter Braga Netto: um irmão siamês. Desde aqueles episódios todos ocorridos durante a intervenção do Rio de Janeiro, ambos se tornaram “inseparáveis”.  Agora, também o deputado não pode se distanciar. Dependendo do que sabe e disse… Comícios, o Trump que o diga, são locais muito perigosos…

*Denise Assis é jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964” , “Imaculada” e “Claudio Guerra: Matar e Queimar”

Foto reproduzida da Internet

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