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Coletânea de Causos

Que causos são esses, Barbosa?

Incentivado por amigos resolvi escrever também causos particulares vivenciados ao longo dos anos. Alguns relatos são hilários, e dignos de levar ao programa Que História é Essa, Porchat. Seguem os causos em forma de coletânea.

Política

Tão ou mais importante do que conquistar a Ásia é garantir a paz na América do Sul, diz editorial do Brasil 247

O encontro deste domingo dos presidentes Lula e Donald Trump ocorre em um momento de grave tensão no continente sul-americano. À agenda inicial da discussão sobre o tarifaço e as sanções estadunidenses contra autoridades brasileiras, espera-se que Lula agregue o tema da escalada militar no mar do Caribe, diante da costa da Venezuela e agora da Colômbia.

Sob a justificativa mentirosa de uma “guerra às drogas”, os Estados Unidos, onde a maconha é liberada em vários estados, deslocam para a costa sul-americana uma força de ataque sem precedentes.

De fato, essa presença cada vez mais ostensiva representa um risco estratégico gravíssimo para os vizinhos e para o Brasil. Um risco que não pode ser ignorado, pois as ações, que incluem ataques mortais sem alerta a botes de pescadores, representam um gesto de intimidação direta contra a soberania de todo o continente sul-americano. Uma tal campanha não é apenas ilegal segundo as próprias leis dos Estados Unidos; ela é uma reedição de cenários de outras guerras às drogas anteriores, usadas como subterfúgio para intervenção imperial no continente. São, no sentido essencial, atos de terror de Estado.

A força militar é adornada por autorizações igualmente inaceitáveis de uso da CIA com “força letal” para ações dentro do território venezuelano, inclusive contra o presidente legitimamente eleito, Nicolás Maduro.

A paz na América do Sul, proclamada há uma década como um princípio regional, está sob ameaça, e o papel do Brasil como nação pacificadora é hoje mais crucial do que nunca.

A paz, porém, demanda que o Brasil exerça o peso de sua autoridade ativa, altiva, na região e no mundo, para repelir com nitidez essa intervenção inédita em sua desfaçatez e força bélica.

A sujeição ao intervencionismo seria, na verdade, um incentivo à guerra. A tergiversação, a cogitação sobre vantagens a se obter numa eventual aliança com o poder hegemônico contra a soberania ameaçada de vizinhos soberanos é inaceitável.

O cenário que se desenha no Caribe é de confronto. O envio do grupo de ataque USS Gerald Ford, que inclui o maior porta-aviões do mundo e um impressionante poderio naval, não é uma mera demonstração de força. Constitui uma escalada que, somada às autorizações para operações da CIA e ao aumento da retórica belicista, cria um polo de instabilidade a poucas centenas de quilômetros das fronteiras brasileiras. Quando o presidente venezuelano Maduro apela em inglês “no crazy war, please”, ele ecoa um sentimento que também é de Lula e que deveria ser de todo o continente.

Paralelamente, a investida dos EUA expande-se para a Colômbia, onde o presidente Gustavo Petro e sua família foram recentemente incluídos na lista de sanções, com acusações inaceitáveis de supostas ligações ao narcotráfico.

Nesse contexto perigoso, as atenções se voltam para ver como vai se conduzir a diplomacia brasileira. O presidente Lula tenta reposicionar o Brasil como fator de estabilidade e diálogo, defendendo que a América Latina se torne uma “zona de paz” e que os países da região “não se deixem arrastar por disputas de potências globais”. Essa visão contrasta radicalmente com a lógica de pressão assimétrica adotada por Washington, que recorre a tarifas, sanções e demonstrações de força militar. O encontro com Trump, portanto, transcende em muito a discussão sobre barreiras comerciais; é a materialização de duas concepções antagônicas sobre o futuro do continente.

O tradicional projeto lulista de uma América do Sul integrada e pacífica, no entanto, esbarra em dificuldades concretas.

A situação exige mais do que diplomacia comercial; exige uma firme defesa dos princípios de soberania e não intervenção. Quando Lula declara discordar da possibilidade de um país sofrer ataques sob a justificativa de combater o narcotráfico, ele está defendendo a pedra angular da ordem internacional. Se “a moda pega”, como alertou o presidente, a região retrocederá a épocas sombrias em que a lei do mais forte prevalece sobre o direito. Execuções extrajudiciais e campanhas bélicas à margem da lei são, essas sim, obras de tiranias.

Conquistar novos mercados na Ásia é importante para o desenvolvimento do Brasil, mas garantir a paz na América do Sul é existencial. A história mostra que instabilidade nas fronteiras consome qualquer ganho econômico.

O Brasil deve usar toda a sua capacidade diplomática, portanto, para frear essa escalada belicista, reativar os mecanismos de diálogo regional e lembrar aos EUA que a América do Sul não aceitará voltar a ser tratada como quintal estratégico ou tabuleiro de guerra por procuração. Que a vocação brasileira para a paz não se confunda com omissão. A sobrevivência de nações soberanas depende, mais do que nunca, do rechaço à intervenção como ponto de partida da criação de um amálgama que, acima das diferenças, construa uma região estável e unida.

Foto: Ricardo Stuckert / PR


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