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Coletânea de Causos

Que causos são esses, Barbosa?

Incentivado por amigos resolvi escrever também causos particulares vivenciados ao longo dos anos. Alguns relatos são hilários, e dignos de levar ao programa Que História é Essa, Porchat. Seguem os causos em forma de coletânea.

Artigo

Cobrança apressada de provas contra golpistas só ajuda bolsonarismo

por Paulo Moreira Leite, no portal Brasil 247

Para começar, é bom reconhecer que os diálogos já conhecidos contém indícios graves e consistentes sobre uma trama contra a democracia. Não são conversas vagas sem propósitos claros. Nem é muito difícil entender o que as gravações estão dizendo. 

As conversas formam um roteiro com começo, meio e fim. Mestre do jornalismo brasileiro, Elio Gaspari, autor da indispensável série de 5 volumes sobre a ditadura de 64, dizia que há uma uma providência  elementar para compreender casos difíceis, sem lógica aparente e enredo obscuro: ordenar os fatos em ordem cronológica e assim avaliar seu sentido e significado. É dessa forma que se pode compreender  os já divulgados  diálogos de celular entre empresários bolsonaristas. 

Lidos em separado, parecem frases soltas, um caos.  Ordenadas pela data em que os diálogos foram travados, elas ajudam a contar uma história com começo, meio e fim. 

A primeira fala divulgada, com data de 17 de maio, é uma frase de quem está dentro de uma  conversa sem subterfúgios a respeito de um golpe de Estado no país.  O empresário Marco Aurélio Raymundo, dono da Mormaii, que vende roupas de surf em franquias espalhadas por  11 estados brasileiros mais o Distrito Federal, deixa claro que já tomou partido na discussão. Argumenta que deve-se aguardar um conflito violento, entre lados opostos da vida política, pois é “utopia” pensar que “as coisas se resolvem ‘na boa'”. Ele prossegue: “Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se torna sangue de heróis. A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘ bonzinhos’ sempre foram dominados…Quando o mínimo de regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou (se) vai valer pontapé no saco e dedo no olho”. 

Com data de 10 de junho, três semanas depois do “pontapé no saco e dedo no olho”de Marco Aurelio Raymundo, aparece uma intervenção de Vitor Odisio, engenheiro e CEO da Thavi Construção. Se a primeira falava sobre o que fazer, esta situa o quando e o como.”Tem que intervir, esquecer o TSE, montar uma comissão eleitoral (como quase todos os países do mundo fazem), votação em papel e segue o jogo”. 

Em 31 de julho, ocorre o que podemos chamar de roda de conversa. As posições estão claras em torno de um plano para o 7 de setembro.  “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top”, elogia Raymundo, fabricante de roupas de surf, “e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro.”

Ivan Wrobel, proprietário da construtora W3 Engenharia, manifesta a mesma opinião. Explica que o desfile militar terá a função de amedrontar a Justiça Eleitoral:  “quero ver se o STE (TSE) tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na avenida Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”. 

A convicção golpista é tão profunda que até surge uma voz de lamento para dizer que já se perdeu muito tempo. 

“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo, (em) 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, diz Andre Tirsso, do grupo Sierra, especializada na venda de imóveis de luxo.  

Ninguém pode imaginar que uma articulação desse vulto, destinada a derrubar a ordem constitucional de um país que o maior PIB da América do Sul e uma influencia diplomática correspondente será revelada no fim de uma investigação tradicional e corriqueira. Pelo contrário. 

Será preciso penetrar nos segredos das fatias mais poderosas da sociedade brasileira, um mundo que possui vários segredos, armadilhas e rotas de fuga — sem falar num cofre em condições de oferecer qualquer quantia para comprar a própria impunidade. Será preciso contar com uma vontade política de ferro, capaz de impedir recuos acovardados e estimular avanços bem orientados. Lances de sorte — como depoimentos espetaculares de delatores — podem ajudar mas a experiencia ensina que não se pode contar com isso. O grande erro — ou esperteza exagerada, acobertada por palavrório cívico — seria desprezar o valor dessas conversas e fingir que nada representam. 

Há muito para explicar e para descobrir. 

Alguma dúvida?

* Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA

Imagens reproduzidas da Internet

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