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Política

Não é hora para auto-engano, mas não é caso para desespero…

por Tereza Cruvinel, no Brasil 247

As urnas falaram ontem mas não proclamaram vitoriosos absolutos ou derrotados sem salvação. Nosso próprio sistema partidário não permite tanto. Mas, para a esquerda e as forças aglutinadas pelo governo Lula, não vale tapar o sol com a peneira e ignorar as vitorias colhidas pela direita e a extrema-direita.

E muito menos ignorar o alerta contido na grande votação dada pelos paulistanos a Pablo Marçal, ainda que seu último crime liquide com sua carreira,

Os partidos conservadores, só com o resultado do primeiro turno, já comandarão a maioria absoluta das prefeituras do país. Até agora,  o maior vitorioso neste quesito foi o PSD, com 888 prefeituras, seguido do MDB (863), do PP (752), do União Brasil (590) e do PL (523). 

Mas também não é caso para desespero ou derrotismo no campo progressista: Boulos chegou ao segundo turno em São Paulo, mesmo em desvantagem; o PT concorrerá em outras quatro capitais no segundo turno e já garantiu 252, numa leve recuperação das perdas acumuladas, que o fizeram cair de 638 em 2012 para 182 em 2020.

E, mais importante, são aliados do presidente Lula os dois maiores vitoriosos desta eleição: o prefeito reeleito de Recife, João Campos, do PSB, e o do Rio, Eduardo Paes, do PSD, mas apoiado por PT, PC do B, PSB e PDT.

Por ter derrotado o bolsonarismo em seu principal território, vencendo o candidato por quem Bolsonaro mais se empenhou, a vitória de Paes ainda é mais expressiva. Embora ele não seja de esquerda e tenha sido apoiado por grupos conservadores, ele soube construir o que a conjuntura exige, a frente ampla antifascista. A frente para derrotar o bolsonarismo em sua toca, onde tem as mais espúrias alianças.

Voltando aos números e ao que eles disseram, não pode a esquerda subestimar o fato de que, nas 15 capitais onde haverá segundo turno, o PT só concorrerá em quatro, o PSB em uma e o PDT em uma. Já o PL de Bolsonaro levou 9 candidatos ao segundo turno, o União Brasil e o MDB, quatro cada um.

Aparentemente este é um resultado catastrófico para o presidente da República e os partidos que lhe dão sustentação. Mas, tirando-se o PL de Bolsonaro, os outros vitoriosos são também apoiadores pragmáticos do governo Lula. E, nessa condição, mais uma vez suas bancadas valeram-se dos recursos públicos, através de emendas orçamentárias, par irrigar as bases eleitorais e reproduzir o mando local, elegendo prefeitos de seus partidos, que os ajudarão a se reeleger em 2026. Esta é a engrenagem que está por detrás dos resultados de ontem.

A rigor, as urnas falaram sobre mais do mesmo, sobre o que temos sido e continuaremos sendo: um país estilhaçado, que segue dividido sem que um dos lados tenha a hegemonia ou esteja subjugado. Em que o governo federal, com toda a força que devia ter,  não é associado a um partido ou coalizão,  mas a um cozido de siglas pautadas por interesses e não por qualquer programa.

Eleição municipal é uma coisa, presidencial é outra, dizem os políticos. Isso verdade até certo ponto. Quando os partidos que sustentam o governo federal levam a pior numa eleição municipal, alguma coisa está fora do lugar. Ou a população está descontente com os resultados do governo ou o governo está se comunicando muito mal com a população. Não estou falando de campanhas ou de marketing, mas de se fazer entender mesmo.

Esta é uma reflexão que Lula e seus aliados terão que fazer depois do segundo turno.

Tereza Cruvinel é colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos

Foto reproduzida da Internet

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