Baú de Estrela

A educação e a avacalhação

por Stella Galvão

Ministros da Educação brasileiros não têm por hábito receberem em audiência professores em greve ou comissões com propostas para a área, mas o governo interino de Temer conseguiu a proeza de alçar a interlocutor da pasta que cuida da política do ensino no país ninguém menos que um ator conhecido por seus predicados fálicos em filmes pornôs. Alexandre Frota, um ator mais conhecido pelos barracos públicos que protagonizado – mais ainda como opositor do governo Dilma Rousseff, quando se juntou ao grupo auto denominado revoltados online, postou imediatamente ao encontro uma mensagem com fotos no facebook, na tarde do dia 25 de maio.

Anunciou, num português isento dessa coisa desagradável chamada acentuação e com requintes estilísticos a um passo do preciosismo linguístico: “Não estou parado hoje agora no Mec Ministério da Educação onde o Ministro nos recebeu para uma pauta colocada por nós .Brasília fervendo,com o Ministro Mendonca Filho”.

Segundo as notícias que se seguiram ao encontro com o ministro pernambucano, expoente do Dem, o ator teria apresentado uma contribuição para o avanço dos rumos da ‘pátria educadora’. No blog que assina no jornal O Globo, o jornalista Lauro Jardim não foi econômico em ironia sobre a presença de tão inusitada figura no órgão cujo titular o recebeu entre sorrisos: “Mendonça Filho acaba de receber no ministério um dos mais importantes nomes da educação e da cultura brasileiras: Alexandre Frota. Frota, ele mesmo, o ator-ogro, levou ao ministro propostas para o ensino nacional.” 

Os comentários nas redes sociais foram na mesma toada.
Leonardo Costa: “É rir pra não chorar”.

Fabiane Vinente: “A tristeza que eu sinto agora só se compara à vergonha”.

Janaína Goulart: “Educação sexual?”

Rolf Souza: “Esperar o que deste governo, senão muita sacanagem?”

Rafael Rodrigues: “É o mesmo que receber o goleiro Bruno na secretaria das mulheres”.

Frota é um sujeito com visibilidade em programas de fofocas dedicados a esquadrinhar a vida de subcelebridades em busca de manutenção da fama. O jornalista Maurício Stycer, que assina blog homônimo no canal UOL tv e famosos, assim descreveu a autobiografia de Frota escrita por um jornalista e lançada em 2013, quando o auto-proclamado garanhão fez 50 anos. “A proposta é fazer o balanço franco de uma vida que, por motivos que Frota agora parece entender, deu completamente errada.” Um dos trechos do tal livro talvez explique a motivação do ministro ao receber o ator, como comentou em citação acima a leitora Janaína. “O que eu mais gosto de fazer? Sexo. O sexo já tinha atrapalhado várias vezes a minha vida profissional, então resolvi fazer filme de sexo, filme pornô. Meu currículo tem novela, minissérie, seriado, reality show, programa de auditório e as emissoras não me ligam… Está na hora de fazer o que mais gosto na vida: fuder. Já estava falido mesmo”

O último verbo usado acima encaixa-se na sensação que muitos brasileiros passaram a experimentar, na voz passiva, ante este governo interino.

* Stella Galvão é jornalista, cronista e doutoranda em Educação, além de colaboradora do blog assinando a coluna Baú de Estrela

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