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Aloprado que esfaqueou Bolsonaro repete lambança de Gregório Fortunato

por Celso Lungaretti, no Congresso em Foco

Quando, num primeiro momento, a notícia era de que Jair Bolsonaro havia sido esfaqueado sem gravidade, cheguei até a postar no meu blog uma frase na linha de que ele tanto pregara a solução de problemas pela força que um energúmeno acabara fazendo exatamente isso.

Mas, quando surgiu a informação de que o ferimento poderia ter consequências severas e até fatais, resolvi deletar o post, pois poderia parecer uma provocação e não faz parte do meu caráter tripudiar sobre a dor alheia, mesmo a de um antípoda ideológico e moral.

Espero que, se escapar, Bolsonaro faça uma reflexão sobre aonde podem levar as pregações de ódio. Afinal, agora está sentindo na carne que elas não valem a pena, jamais!

Quanto ao aloprado que esfaqueou Bolsonaro, foi filiado ao Psol entre 2007 e 2014, o que certamente será capitalizado à exaustão pelos inimigos do partido. O dano que ele causou ao Psol e a toda a esquerda brasileira é gigantesco. Simplesmente abriu uma brecha para o imponderável. Daqui pra frente, tudo pode acontecer.

Aparenta ser um homem de tão poucas leituras quanto luzes, portanto dificilmente conhecerá a história de Gregório Fortunato, um guarda-costas de Getúlio Vargas que, além do dever profissional, tinha verdadeira adoração pelo chefe.

Indignado com as críticas virulentas que o jornalista Carlos Lacerda fazia a Vargas, decidiu calá-lo a tiros por conta própria, em agosto de 1954.

Tão trapalhão quanto o do atentado de Juiz de Fora, apenas atingiu seu alvo na perna, mas os disparos acabaram matando um oficial da aeronáutica que acompanhava o Lacerda.

Resultado: foi o impulso definitivo para as Forças Armadas ficarem em pé de guerra, exigindo a renúncia de Vargas.

À alternativa de sair do poder escorraçado, Getúlio preferiu o suicídio, a forma que lhe restara para (por meio da carta-testamento) contra-atacar, frustrando os planos de tomada de poder por parte da direita.

O tal Adélio Bispo de Oliveira já deve ter conseguido matar a candidatura de Guilherme Boulos. Vejamos quantos estragos mais sua estupidez causará.

Os possíveis alvos de retaliações

Como nossas otoridades se mostram tão incompetentes para zelarem pela segurança de presidenciáveis quanto para impedirem que museus virem cinzas, vou dar-lhes uma mãozinha.

A História nos ensina que atentados políticos são como um tabu: uma vez rompido, outras ocorrências semelhantes tendem a vir na sequência.

Sabemos como são os devotos do Bolsonaro, então seria uma temeridade deixarmos de considerar a hipótese de uma vingança. Eles vão se considerar agredidos e há grande chance de um ou mais sentirem-se compelidos a dar demonstração de força.

Contra quem? Existem possíveis alvos em profusão, mas quatro são os mais óbvios, portanto devem receber atenção especial:

– Boulos, por ser o candidato do partido ao qual o esfaqueador foi filiado no passado;

– Ciro e Marina, por serem de centro-esquerda e ex-ministros do Lula; e

– o próprio Lula, o troféu que essa gente mais cobiça (está preso? Isto nada garante. Na Alemanha da década de 1970, em plena democracia, quatro integrantes do grupo Baader Meinhof foram executados nas suas celas, em duas ocasiões distintas).

Pode até ser excesso de preocupação da minha parte. Mas todos temos de fazer o que estiver ao nosso alcance para evitar o imponderável. E já estou cansado de ver colocarem a tranca só depois de a porta haver sido arrombada.

*Celso Lungaretti é jornalista e ativista brasileiro que participou da resistência à ditadura militar na década de 1960 e 1970. É também é diretor-executivo do site Congresso em Foco

Foto reproduzida do Congresso em Foco

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