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Causos que marcaram os 13 anos do Blog: O dia em que fui demitido do jornal pelo celular

Dentre as várias memórias que tenho guardadas em meu baú uma me deixou muito indignado. Não pelo fato em si, mas pela forma como foi feita. Fui demitido pelo celular pelo dono do jornal. Lembram do ministro-senador Cristovan Buarque (PDT) que foi demitido por telefone pelo presidente Lula? Foi mais ou menos assim. Vamos ao fato:

Era editor de Política do jornal JH Primeira Edição. Me orgulhava de fazer parte de um projeto ousado do professor de “Ética”,  jornalista e empresário Marcos Aurélio de Sá. Era uma equipe pequena tendo a frente o colega e amigo Edilson Braga como editor geral do matutino, que em princípio circulava em tamanho tablóide. Braga sempre dizia que o JH Primeira Edição havia revolucionado o jornalismo potiguar. E tinha razão. Fazíamos um jornalismo diferenciado. Ah, não podia deixar de citar o colega e amigo João Ricardo, que também fazia parte dessa equipe.

Lembro que quando fui sondado pelo amigo jornalista Flávio Marinho para ocupar o seu lugar na editoria de Política do JH, logo no primeiro mês do jornal – Marinho estava deixando a editoria para se dedicar a sua empresa de assessoria – não titubiei.  Achei que era mais um desafio em minha carreira.  Apostei e deu certo.

No primeiro dia de trabalho me reuni com os jovens repórteres Daniela Freire e Alex Viana e disse-lhes: Vamos fazer um jornalismo político diferente. Não quero nada do disse-me-disse. Ou seja: Alguém faz uma denúncia contra outra pessoa e só se repercute com o denunciado no outro dia. Não, a proposta era fazer um jornalismo investigativo e sempre ouvindo as pessoas envolvidas. Deu certo.

JH Primeira Edição criou credibilidade. Ouvi muitos elogios sobre a forma editorial do matutino ser conduzido. Isso me lisonjeava. Marcos Aurélio no princípio deu carta-branca para se colocar a minha proposta em prática, do jornalismo investigativo, desde que o jornal não assumisse as denúncias. Sempre na boca de alguém e se possível com documentação. Eram raras as matérias que não eram publicadas com fac-símile de documentos conseguidos pelos repórteres nas matérias investigativas. Durante o meu período como editor de Política nunca fomos desmentidos. Questionados sim, por interesses contrariados, mas desmentidos nunca.

Pois muito bem: Um belo dia, uma sexta-feira ainda pela manhã, por volta das 8h30, o meu celular toca. Era o professor de “Ética no Jornalismo”, da UFRN, e dono do jornal, Marcos Aurélio. Foi curto e grosso: “Barbosa a partir de hoje seus serviços não interessam mais ao jornal”. Ponderei, quis saber o motivo, e ele disse que eu estava colocando o seu jornal numa situação difícil. Declarou que já tinha me alertado sobre isso. Marcos Aurélio se referia as matérias contra o governo Wilma que o JH vinha publicando com frequência. Disse-lhe que fazia jornalismo sério sem chapa-branca e que em nenhum momento o jornal dele tinha sido desmentido e que, portanto, acreditava que estava fazendo um bom trabalho. Não adiantou. Cumpri aviso prévio e acabei saindo mesmo do jornal.

O problema que levou a minha demissão foram as pressões políticas e econômicas. Disso não tenho dúvida. Infelizmente fazer jornalismo sério em qualquer lugar do mundo tem dessas coisas. Quando não se agrada aos poderosos de plantão ou você se submete as regras ou cai fora. E como costumo dizer que vendo a minha mão-de-obra jamais a minha consciência, perdi o emprego. Mas saí de cabeça erguida! Pouco tempo depois o JH Primeira Edição deixou de existir.

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