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CPI: vendedor da Davati vê disputa de grupos na Saúde e chama propina de `comissionamento´

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Em seis horas de depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (15), o representante de vendas da Davati Medical Supply Cristiano Carvalho disse que teve conhecimento de um pedido de um “comissionamento extra” para a aquisição de vacinas pelo governo. Ele também relatou uma disputa interna entre grupos no Ministério da Saúde.

Davati entrou nas investigações da CPI após o policial militar e vendedor de vacinas Luiz Paulo Dominghetti ter denunciado uma cobrança de propina de US$ 1 por dose em meio à oferta de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca ao Ministério da Saúde.

Segundo Dominghetti, o pedido teria sido feito em 25 de fevereiro pelo então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, exonerado pelo governo logo após a acusação. Em depoimento à CPI, Dias negou a cobrança.

Carvalho disse que a partir de fevereiro passou a ser procurado de forma “insistente” por pessoas do Ministério da Saúde. Apesar de a Davati ter mantido tratativas oficiais com o governo federal sobre a venda da vacina AstraZeneca, a farmacêutica negou ter qualquer tipo de intermediação na venda de imunizantes.

Senadores governistas e da oposição acusam a companhia de tentar dar um golpe, se apresentando como suposta vendedora de vacinas (leia mais abaixo). Representantes da empresa tiveram reuniões com ao menos oito autoridades – entre as quais, seis militares.

Aos senadores, Cristiano Carvalho afirmou ter sido informado de um pedido de “comissionamento” após um jantar em 25 de fevereiro entre Dominghetti, Roberto Dias e o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde.

Ainda segundo essa versão, o pedido de “comissionamento” partiu do “grupo do Blanco”.

Duas semanas depois do jantar, Carvalho teve uma reunião no Ministério da Saúde, ao lado de Dominghetti, para tratar da venda de doses da AstraZeneca (leia mais abaixo).

Nesta quarta, Carvalho se apresentou como vendedor (vídeo abaixo) e negou ter qualquer tipo de vínculo empregatício ou contrato com a Davati. Também negou atuar como CEO (diretor-executivo) da empresa, conforme relatou Dominghetti.

Senadores governistas e da oposição acusam a companhia de tentar dar um golpe, se apresentando como suposta vendedora de vacinas (leia mais abaixo). Representantes da empresa tiveram reuniões com ao menos oito autoridades – entre as quais, seis militares.

Aos senadores, Cristiano Carvalho afirmou ter sido informado de um pedido de “comissionamento” após um jantar em 25 de fevereiro entre Dominghetti, Roberto Dias e o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde.

Ainda segundo essa versão, o pedido de “comissionamento” partiu do “grupo do Blanco”.

Duas semanas depois do jantar, Carvalho teve uma reunião no Ministério da Saúde, ao lado de Dominghetti, para tratar da venda de doses da AstraZeneca (leia mais abaixo).

Ele disse que trabalhava como representante de vendas, fazendo a ponte da relação comercial entre o Brasil e a sede da empresa, nos Estados Unidos.

A procura pela Davati, disse Carvalho, começou por meio do reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador de uma organização evangélica chamada Senah.

Carvalho disse ainda ter conhecido Dominghetti somente em 10 de fevereiro, por meio de um representante de vendas chamado Rafael Alves – esse mesmo representante também foi citado na CPI em mensagens trocadas com o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF).

Cristiano Carvalho admitiu que no início das tratativas estava “incrédulo” sobre a possibilidade de venda de vacinas, mas que começou a dar mais “atenção” a isso quando começaram a chegar contatos oficiais do Ministério da Saúde por meio de e-mails e telefonemas.

Contatos com Roberto Dias

À CPI, Cristiano Carvalho contou que foi procurado em 3 de fevereiro por Roberto Dias em 3 de fevereiro – ou seja, antes do jantar em que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde teria feito o suposto pedido de propina. Segundo Carvalho, Dias obteve o telefone dele por meio de Dominghetti.

Cristiano Carvalho disse ter estranhado a mensagem de alguém do ministério às 19h10: “’Boa noite, Cristiano. Roberto Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde”. Às 19h40, segundo relatou, recebeu uma chamada.

“Eu não retornei. Na verdade, eu vou ser bem sincero com os senhores: eu estava absolutamente incrédulo que era um funcionário do Ministério da Saúde que estava entrando em contato comigo às 19h, porque não fazia muito sentido”, afirmou aos senadores.

Ele disse que, após outras mensagens e ligações não respondidas, respondeu por volta das 21h ao então diretor, que teria se apresentado como o responsável por fazer dispensas internacionais de vacinas, e fez algumas perguntas, entre as quais como a vacina chegaria ao Brasil.

O representante de vendas contou que também foi procurado pelo coronel Blanco e que, “aparentemente”, Dias o havia indicado para negociar com ele.

“Ele já não era mais um servidor público desde janeiro. Porém, a impressão que me deu é de que ele continuava assessorando o Roberto Dias. Foi essa a impressão que me passou”, afirmou.

Segundo Cristiano, era o “grupo do Blanco” que estaria fazendo o pedido de comissionamento em troca da aquisição da vacina.

“A informação que veio a mim – vale ressaltar isso – não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome [Guilherme] Odilon”, afirmou o representante da Davati.

Reunião no Ministério da Saúde

Em 12 de março, Cristiano Carvalho teve uma reunião no Ministério da Saúde para negociar a venda das 400 milhões de doses do imunizante.

Ele disse ter sido levado pelo reverendo Amilton de Paula, por Dominghetti e pelo coronel da reserva Helcio Bruno, representante do Instituto Força Brasil – esse instituto, de acordo com a cúpula da CPI, é de “cunho bolsonarista” e patrocinou sites investigados no inquérito das fake news.

O então secretário-executivo do ministério, coronel Élcio Franco, responsável pela aquisição de vacinas, participou do encontro. De acordo com Cristiano Carvalho, ele não sabia da proposta, apesar dos diversos contatos já feitos com Dias e Blanco.

“Havia dois caminhos dentro do ministério, aparentemente – um era via Elcio Franco e um era via Roberto Dias –, e um não sabia do outro. O caminho que ele tentou via Roberto Dias, aparentemente, não prosseguiu por conta de algum pedido que foi feito lá – segundo chegou para mim num primeiro momento – como grupo do Blanco ou o grupo do Odilon”, afirmou Cristiano.

“Aparentemente não estava prosseguindo por causa disso. E, paralelamente, eles foram falar diretamente com o Secretário Elcio Franco, por intermédio do Força Brasil, acho que no intuito de driblar, inclusive, essa resistência por parte do comissionamento ou algo que o valha. São dois caminhos completamente diferentes”, acrescentou.

A CPI apura justamente se há uma “guerra interna” entre os grupos dos militares e de indicados do Centrão no Ministério da Saúde. Conforme mostrou o blog do jornalista Valdo Cruz, a cúpula da CPI agora, quer descobrir se a batalha se dava entre dois esquemas distintos com o objetivo de tirar proveito financeiro das negociações.

‘Golpe’ e ‘Operação Tabajara’

O depoimento de Carvalho uniu senadores, da base governista e da oposição, em relação à falta de qualificação e de credibilidade da Davati para negociar com o governo brasileiro.

Líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE) manifestou seu “desconforto” com os diálogos mantidos entre os representantes da empresa e servidores públicos e afirmou que ficou constatada a falta de habilidade e capacidade técnica da Davati para tratar com o governo.

“Eu estou realmente, digamos assim, constrangido com os diálogos que estão sendo aqui mostrados. Mas é importante também deixar claro que, apesar de todas essas contradições ou equívocos, ou falhas, ou transgressões que possam ter sido praticados por eventuais colaboradores ou servidores, essas negociações não foram à frente. Não se comprou uma dose de vacina da Davati”, afirmou Bezerra.

Relator da CPI, o senador Renan Calheiros contestou: “Mas não precisariam ir à frente para caracterizar corrupção”, disse. “Até porque não tinha vacina para vender”, emendou o senador Humberto Costa (PT-PE).

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) questionou a presença no Palácio do Planalto do ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco – que recebeu a Davati quando ainda tinha gabinete no Ministério da Saúde. Atualmente, ele é assessor especial da Casa Civil.

“Que a Davati não tenha uma vacina para vender, nós já sabemos. Agora, o que nos espanta e o que constrange o governo [é que] o coronel Élcio Franco ainda está no gabinete do presidente. Ele não está mais no ministério, não. Ele está lá, dentro do gabinete do presidente. Eu sugiro, para o bem do país, que um cidadão como o coronel Elcio Franco não pode estar na antessala do presidente mais. Você não pode passar a mão em cima de uma pessoa que brincou com a vida das pessoas negociando vacina fantasma. Vacina fantasma e ainda com um indício muito forte de que houve pedido de benefícios”, disse Omar Aziz.

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) ironizou as reuniões entre a Davati e autoridades do governo brasileiro.

“Tem vários nomes do governo que estão sendo apresentados aqui como pessoas que buscaram uma empresa numa verdadeira Operação Tabajara, e esse governo caiu. Qual o interesse? Só pode ter sido a propina. Caiu porque todos conversaram”, afirmou.

Um dos principais representantes da tropa de choque do governo na CPI, Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que a Davati tentou dar um “golpe”.

“Existiu uma coisa muito estranha: a tentativa de golpe ao Ministério da Saúde e a um conjunto de governos e prefeituras municipais”, afirmou.

Na sequência, ele reclamou do fato de a CPI dar palco para um “vendedor de ilusão”.

“O ministério expurgou essa tentativa de venda do nada, de vacinas inexistentes, nos trâmites de ‘compliance’ do ministério. Lá, não teve êxito”, afirmou.

Foto reproduzida do G1



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