Entrevista

Fátima Bezerra: Nosso governo preza por uma relação republicana com todos

O blogdobarbosa está completando neste 13 de agosto doze anos no ar ininterruptamente, sempre na defesa do bom jornalismo e da liberdade de expressão, essência da democracia. Para comemorar publicamos uma entrevista, exclusiva, com a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT). Segue a entrevista:

1-blogdobarbosa – Governadora, a Sra caminha para os oito meses de governo. Na avaliação da Sra a gestão tem correspondido a expectativa?

Fátima Bezerra – O Rio Grande do Norte inteiro sabe em que condições encontramos o Governo. Um estado sob escombros, com salários atrasados há dois anos, como se isso fosse normal. Um caos que estava se naturalizando. Desde que assumimos o Governo do Estado conseguimos, sem nenhuma receita extra, pagar os servidores dentro do mês trabalhado. E também estamos trabalhando dia após dia para manter os serviços básicos em pleno funcionamento, batalhando por mais recursos para a saúde que vão diminuir as filas de cirurgias e investindo R$ 3 milhões por mês nas diárias operacionais do sistema de segurança pública. O resultado é que estamos entre os 4 estados brasileiros que mais diminuíram os índices de violência. Isso é fruto de gestão, trabalho integrado e muita vontade de acertar. Ainda estamos longe de atingir os resultados para colocar o Rio Grande do Norte no patamar que sonhamos, mas o povo potiguar pode ter certeza que não será por falta de trabalho. Nossa equipe trabalha dia e noite para isso.

2-blogdobarbosa – Qual, no entendimento da Sra, o maior desafio do governo diante das dificuldades encontradas?

Fátima Bezerra – Estar à frente do Governo do Estado já é naturalmente um desafio. Na situação em que encontramos a gestão, combinado com a conjuntura nacional, é ainda mais difícil. Então, nós vamos encarando cada desafio por vez. Temos a saúde com dificuldades, a segurança que estamos trilhando um caminho de diminuição dos índices de violência, além da necessidade clara de investir cada vez mais na educação básica. E isso soma-se ao esforço de manter os salários em dia, sem esquecer dos recursos que buscamos para pagar os atrasados. Pode-se dizer que o maior desafio certamente é gerir o estado. 

3-blogdobarbosa – O governo da Sra faz oposição ao governo federal. Isso, de certa forma, dificulta um bom relacionamento. Até que ponto isso é prejudicial ao Rio Grande do Norte?

Fátima Bezerra – Nosso governo preza por uma relação republicana com todos. Eu tenho minhas convicções políticas e escolhas partidárias que são conhecidas por todas. Porém, estou ocupando o cargo de governadora, pois fui escolhida pelo povo do Rio Grande do Norte para a missão de recuperar o nosso estado. O presidente Jair Bolsonaro também foi democraticamente eleito, para trabalhar em prol do país. Já estivemos com o próprio presidente e diversos ministros em reuniões que buscam o melhor para o RN. Não são pedidos de favores, mas de direitos do nosso povo. Por isso, nossas portas estão sempre abertas para parcerias em prol do desenvolvimento.

4-blogdobarbosa – A Sra eu diria, assim como o ex-presidente Lula na política nacional , quebrou paradigmas na política do Rio Grande do Norte. Primeiro, se elegendo senadora numa disputa com uma ex-governadora. Depois, se elegendo governadora enfrentando as oligarquias e um governador candidato a reeleição. A que a Sra atribui esse fenômeno?

Fátima Bezerra – Muito me honra ser a primeira governadora de origem popular no Rio Grande do Norte, o que traduz um sentimento popular muito forte em busca de mudança. O povo votou querendo alguém que pudesse responder aos seus anseios e também para encerrar um tempo em que os mesmos grupos políticos comandavam o nosso estado, terminando na situação que nos encontramos hoje. Devo essas vitórias políticas ao carinho do povo potiguar com o nosso trabalho. É o reconhecimento de muita luta nessa estrada que já dura mais de 30 anos. Os espaços que alcançamos são fruto de suor. Como ninguém faz nada só, é justo reconhecer que sempre tive ao meu lado diversos companheiros da mais alta qualidade política, profissional e pessoal, que cooperaram para chegarmos até aqui.

5-blogdobarbosa – A Sra é contra a reforma da previdência da forma que está sendo proposta pelo governo Bolsonaro. O governo tem algum modelo de previdência que possa sanar o déficit previdenciário estadual?

Fátima Bezerra – Não só eu, mas o conjunto de governadores do Nordeste posicionou-se contrário à reforma proposta inicialmente pelo Governo Federal por conta de todas as perversidades e ataques aos direitos dos trabalhadores. Não tinha como ser diferente nesse posicionamento. Nossa gestão tem a clareza de saber que o déficit previdenciário do funcionalismo público estadual é muito alto. As gestões passadas utilizaram todo o dinheiro do fundo previdenciário, sem fazer nenhuma mudança no sistema, o que coloca em risco o futuro de muito servidores. Os dados nos mostram que mais da metade do número de servidores já são inativos. O rombo mensal passa dos R$ 130 milhões. No entanto, não seria producente encaminhar qualquer projeto sem ter a definição no plano nacional, sob o perigo de jogar trabalho fora. Precisamos de cautela e muito zelo nessa discussão, procurando defender o direito dos servidores.

6-blogdobarbosa – Alguns críticos do governo dizem que a “lua de mel” está acabando e que a partir de agora as cobranças serão maiores tanto no campo político quanto no campo social. O que a Sra tem a dizer?

Fátima Bezerra  – Primeiramente, não avalio que tivemos um período de “lua de mel”. Assumimos um governo em atraso com os seus servidores em duas folhas salariais completas e duas parciais. Desde o dia 1º de janeiro que encaramos dificuldades em todas as áreas. Não tivemos tempo para aproveitar um tempo tranquilo nesse casamento com o povo potiguar. As cobranças estão batendo à porta desde a primeira hora e não a encontrou fechada em nenhuma ocasião. Assumimos o Governo do Estado sabendo das dificuldades, das possíveis críticas que viriam, pois ninguém é infalível e vamos errar em algum momento. A nossa gestão preza pelo diálogo e pela transparência. Toda crítica construtiva é bem vinda e justa. Todos podem somar e cooperar conosco.

7-blogdobarbosa – O Brasil vive um momento crítico na sua história do ponto de vista político-social e econômico. A Sra governa um estado pequeno do Nordeste, é mulher e de um partido de esquerda. Pela postura de extrema-direita já demonstrada pelo governo Bolsonaro não teme retaliações?

Fátima Bezerra – Nós vivemos em um sistema republicano e acredito que as instituições devem ser respeitadas. Não temo nenhuma retaliação, por qualquer condição que seja. Da mesma forma que todos os outros políticos eleitos, estou neste cargo, por força do voto do potiguar, representando mais de 3,4 milhões de pessoas. Penso que esse momento do país vai mostrar que a força da democracia brasileira deve ser maior do que qualquer radicalismo que busque derrubá-la. É dever de todo brasileiro e toda brasileira mostrar isso.

8-blogdobarbosa – O site The Intercept Brasil vem divulgando diálogos comprometedores da força-tarefa da Lava Jato. No mês passado o ex-embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, declarou ao site Conjur (Consultor Jurídico) que o governo dos EUA acompanhava com bastante atenção – e preocupação – as iniciativas do governo brasileiro – entenda-se, governo Lula – de criar um bloco político forte e coeso na América do Sul. O que a Sra tem a dizer sobre estes fatos?

Fátima Bezerra – As revelações sobre as conversas entre os membros da Lava Jato com o ex-juiz Sérgio Moro são a comprovação do que estamos denunciando há muito tempo. O presidente Lula é alvo de uma perseguição, não teve um julgamento justo e, portanto, é um preso político. É muito simples de ver. As pistas já estavam evidenciadas por tudo que Deltan Dallagnol e Sérgio Moro fizeram desde o início do processo, com condução coercitiva, perseguição aos familiares. O presidente Lula deve ser solto, por uma questão de Justiça. Sobre essa fala do embaixador, é natural que os EUA estivessem de olho nas movimentações do Brasil durante o período do governo Lula, quando estávamos caminhando para nos tornar uma verdadeira potência mundial. Tanto é que a própria presidente Dilma Rousseff foi espionada, teve sua comunicação grampeada pelos americanos. Todo esse processo de consolidação do Brasil como um ator forte no mundo foi interrompido pelo golpe parlamentar de 2016 e agora está em vias de ser totalmente desmantelado.

Foto: Ascom/Governo do Estado

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