Artigo

Moro e a perda do fio da meada

por José Ricardo Lagreca

Estranho, muito estranho, um país ter o seu maior representante da justiça, o seu ministro, indo ao parlamento, para diante de uma comissão, em audiência pública, ter que demonstrar a sua imparcialidade, quando do exercício da sua profissão. Este para mim, é o fato. Não sei de outros casos, mas se existiram, pelo menos foram inusitados. Pergunto-me então, onde
queremos chegar?

Não era o juramento quando da titulação de juiz que queriam. Era já, a necessidade de as denúncias, de que havia sido parcial no trato de um dos mais sérios capítulos da história do Brasil. E por que as denúncias? O comportamento do juiz gerava desconfiança e quase que obrigava, o que nestas circunstâncias devem existir. Denuncias.

Ao contrário das delações, verdadeiras torturas, institucionalizadas por ele próprio, algo parecido com o pau de arara utilizado anos atrás, as denúncias foram espontâneas, através de um meio atual de comunicação da imprensa. Não houve como nas delações, troca de favores.

Observamos que no decorrer do processo de arguição, houve a tendência defensiva de salientar, primeiro, que as denúncias foram obtidas ilegalmente, depois, que eram falsas, manipuladas e que precisavam ser provadas. Contudo, esquece a tese que o juiz usou da mesma técnica de ausculta eletrônica, quando penetrou na intimidade das conversas da
presidenta da república, e olha ocupando o cargo de magistrado. O fato de que precisa ser, é lógico e legítimo. Mas não por ele próprio.

Ainda, chamou a atenção a forma da relatividade natural dos encontros das partes de investigação e do julgamento. Tudo dito muito normal e justificado com vários precedentes. Que perigo então, corremos todos nós!
Estes pontos de sustentação do ministro, já eram esperados. O que não se esperava era que tivesse que ser chamado a defender a sua respeitabilidade de ministro da justiça do Brasil.

Em última análise, se assim foi, esperava-se que renunciasse ao cargo. Ao contrário do que está se vendo, o reitor da universidade Federal de Santa Catarina, deixou o cargo, e sem suportar, as injustiças, foi ao suicídio.
Mesmo que o ministro tenha procurado colocar um ponto final nesta discussão, diminuir a sua gravidade, de tal sorte, que ele próprio afirmou, embora sem muito entusiasmo, “ a montanha pariu um rato”, há necessidade de se aprofundar a questão e torná-la clara, o mais que possível, sem perder o fio da meada.

*Ricardo Lagreca é médico cardiologista, professor da UFRN e ex-secretário de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte

Foto reproduzida da Internet

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