Editorial

Ninguém se iluda, está em curso um novo golpe contra a democracia

Diante das pesquisas de intenção de voto que projetam o ex-presidente Lula sempre na dianteira na corrida presidencial de 2022, com possibilidades até de ganhar no primeiro turno, ninguém se iluda, está em curso um novo golpe para tentar evitar que o petista assuma pela terceira vez à Presidência da República.

Os fatos são notórios. O presidente Bolsonaro tem declarado isso abertamente seja para seus seguidores no “cercadinho” do Palácio da Alvorada, todas as manhãs, seja nas suas lives semanais nas quintas-feiras. A PEC do voto impresso, defendida por Bolsonaro à exaustão, que foi derrubada na Câmara e arquivada foi apenas uma cortina de fumaça. Na verdade a intenção de Bolsonaro com o voto impresso era tumultuar o resultado da eleição caso ele perdesse e tentar ganhar no tapetão, como fez Donald Trump nas eleições americanas.

Contudo, esse projeto ainda não está de todo abortado. O portal Brasil 247 divulgou que Steve Bannon, ideólogo da extrema-direita mundial e estrategista de Donald Trump, vem utilizando seu peso político para apoiar a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro, o filho 03 de Jair, chegou a se encontrar com Bannon na última terça-feira (10), em simpósio organizado por Mike Lindell, empresário trumpista e um dos principais responsáveis pela divulgação de teorias conspiratórias sobre a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, em 2020.

Eduardo foi convidado a subir ao palco e foi apresentado por Bannon como “o terceiro filho do Trump dos trópicos”. O deputado espalhou mentiras sobre as urnas eletrônicas e apresentou vídeos das motociatas do chefe de governo. 

Em discurso inicial, Bannon atacou o ex-presidente Lula e afirmou que a eleição presidencial de 2022 no Brasil é “a mais importante de todos os tempos na América do Sul”. 

“Essa eleição é a segunda mais importante no mundo e a mais importante de todos os tempos na América do Sul. Bolsonaro vai ganhar, a não ser que seja roubada pelas, adivinhem só, as máquinas”, disse Bannon.

Victor Candido, um economista que presta consultoria ao Banco Santander, escreveu um relatório, no qual defende um golpe de Estado para evitar o retorno de Lula à Presidência da República, de acordo com reportagem de Andy Robinson, no site Ctxt.

Candido escreveu: “Dito isso, é preciso reconhecer um problema na eleição de 2022: a perspectiva de retorno ao poder da máquina de corrupção do governo Lula”.

Em outro trecho, disse: “Se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor”.

Um artigo publicado na sexta-feira (13) no jornal Estado de S. Paulo sinalizou que grandes empresários estão dispostos a se mobilizar mais uma vez contra a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contra a soberania popular, depois de uma sucessão de golpes que empurrou o Brasil ao fascismo: o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016, a prisão política de Lula em 2018 e agora as ameaças a um processo eleitoral limpo. Trata-se do texto “Nem Lula, nem Bolsonaro”, assinado por Pedro Passos, dono da Natura, Pedro Wongtschowski, do grupo Ultra e Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp.

Portanto, se nada for feito para conter os abusos que Bolsonaro vem cometendo, o Brasil corre o sério risco de presenciar outro golpe contra a democracia. Se tem três opções de evitar um novo golpe: a cassação da chapa Bolsonaro/Mourão pelo TSE com base no inquérito das Fakes News, inclusive no STF, onde se apura as mentiras produzidas desde a época da campanha eleitoral até os dias atuais, o impeachment de Bolsonaro, que o presidente da Câmara, Arthur Lira, do centrão e seu aliado, segura, e a inelegibilidade de Jair Messias Bolsonaro pelos crimes que vem cometendo a ponto de chamar o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso de “filho da puta”.

A opção que acho mais favorável neste momento é a da inelegibilidade porquanto são inúmeros os processos em andamento no Supremo contra o presidente da República. Não só isso; o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, tiveram um encontro fora da agenda oficial na última terça-feira, dia do desfile militar de Jair Bolsonaro, que foi um fiasco.

Temendo o risco de ruptura institucional, Barroso foi duro contra a investida golpista de Bolsonaro. Ele questionou Mourão sobre a possibilidade de as Forças Armadas embarcarem em uma aventura golpista do chefe de governo. 

Diante dessa reunião entre Barroso e Mourão, fica claro que a possibilidade de cassação da chapa pelo TSE está descartada. O impeachment de Bolsonaro também é pouco provável pelo fato de Lira resistir em colocar em pauta um dos mais de 100 pedidos de impedimento do presidente que adormecem sobre a sua mesa. A não ser que o STF obrigue ele a colocar em votação um dos pedidos como fez com Senado para que fosse aberta a CPI da Covid.

Aliás, já existe um pedido para abertura de impeachment muito forte e sustentado. Na última sexta-feira (13) a Associação de Vítimas e de Familiares de Vítimas da Covid-19 Brasil (Avico Brasil) protocolou na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro por comprovado crime de responsabilidade e atentado contra a saúde pública e à Constituição Federal de 1988. Na petição endereçada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), as vítimas da pandemia ressaltam que o presidente menosprezou o Sars-Cov-2 (novo coronavírus), o que levou à morte mais de meio milhão de brasileiros e fez do Brasil como um dos países mais afetados pela covid-19.

Portanto, se nada for feito um novo golpe contra a democracia que já vem sendo anunciado será concretizado.

A conferir!

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