O Baú de um Repórter, Política

O Baú de um Repórter

Dentre as minhas lembranças de Redação tenho guardado uma que considero ser um diferencial na maneira de se fazer jornalismo. Falo do jornalista Alex Viana, com quem tive a oportunidade de trabalhar no JH Primeira Edição em sua primeira fase. Apesar de jovem, um profissional dos mais capacitados e astucioso que já conheci. Vamos ao fato:

O dia em que o repórter ouviu um depoimento sobre um escândalo na janela do MP

O JH Primeira Edição vinha dando ampla cobertura ao escândalo da Fundação José Augusto – Fundação de Cultura do governo do Rio Grande do Norte –  que pagou R$ 1,2 milhão para FC Produções e Eventos sem, no entanto, a empresa ter realizado os shows contratados para carnavais em prefeituras do interior. Foram denunciados pelo Ministério Público Estadual o empresário Fabiano César Lima da Motta, proprietário da FC Produções; José Antônio Pinheiro, diretor administrativo da FJA; Haroldo Sérgio Menezes, coordenador financeiro da Fundação; Jefferson Pessoa, subcoordenador de Serviços Gerais da entidade; Cícero Duarte, funcionário do setor de Serviços Gerais e Ênio Gomes Ferreira, assistente Técnico Administrativo. Todos estavam sendo acusados de peculato [apropriação do dinheiro público], falsidade ideológica [pelo fato de os shows não terem sido realizados] e formação de quadrilha.

No depoimento de Haroldo Menezes, como editor de Política do JH pautei Alex Viana para ir a sede do Ministério Público para acompanhar. O depoimento estava previsto, salvo engano, para às 15h. Local e hora marcada Viana se dirigiu ao MP. De lá ele telefona pra Redação e diz que a imprensa não ia poder ter acesso ao depoimento. Determinei então que ele aguardasse acabar para fazer uma entrevista com o depoente e o procurador que iria colher o depoimento. As horas passavam e nada de Alex Viana chegar na Redação. Por volta das 17h30 liguei pra ele e obtive a informação de que tinha um “material quente” na mão. Perguntei do que se tratava e ele me disse que só podia falar quando chegasse ao jornal.

Passava um pouco das 18h e Viana chega à Redação sorrindo. Percebi logo que trazia boas notícias. Era costume seu sorrir quando tinha um bom material na mão. Dito e feito. Ele me chamou na calçada do jornal e disse que tinha gravado todo o depoimento de Haroldo, através de uma janela que descobrira que dava para a sala onde o acusado foi inquerido. Perguntei se tinha mais alguém da imprensa com ele. Alex Viana afirmou que não. Só ele tinha a gravação porque os outros repórteres já tinham ido embora. Aí eu disse. Corre pra Redação que isso será a manchete do jornal.

No dia seguinte só o JH Primeira Edição deu o depoimento de Haroldo Menezes graças a astúcia de Alex Viana.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita e digitar uma palavra-chave tipo Baú

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