Baú de Estrela

O diadema de Fátima

por Stella Galvão

Noite de sábado, jantar em casa de amigos. A onipresente TV traz o noticiário do RN. Um destaque é a convenção que confirmou a candidatura da governadora Fátima Bezerra (PT) à reeleição. Mar de partidários trajando duas cores predominantes, vermelho e verde. Alguém pergunta: ela é apoiada pelo Partido Verde, é? Pelo amor, diz outro, é o verde do velho MDB, personificado na figura do filho do ex-senador Garibaldi Alves. Walter é candidato a vice de Fátima nesta chapa, em um acordo que poderá catapultar a família novamente ao poder executivo estadual, dentro de quatro anos.

Voltemos ao tema da noite. Fátima assume o protagonismo da convenção e da reportagem. Salta uma convidada indignada com o visual da governadora. “Esta senhora não tem uma assessora de imagem, alguém que sugira uma repaginada geral?” Fátima, como sabem todos que acompanham a sua trajetória política, veste quase sempre um blusão largo de cores variadas, predominando o vermelho. Em ocasiões mais formais apresenta-se com um blazer. Uma marca do seu estilo é o diadema em cores variados. Na convenção, trazia as madeixas seguras por um grosso aro de cor clara combinando com a calça.

“Diadema na cabeça de uma governadora é muito pé no chão”, continuou a partidária de uma assessora de estilo para Fátima. Outro a defendeu, alegando que a governadora dá provas diárias de não pecar por vaidade, lembrando tratar-se de um dos sete pecados capitais.  A vizinha de mesa concorda. “Pior seria termos uma dondoca torrando os recursos do Estado para renovar o closet.” O tema do diadema da governadora não raro frequenta alguma coluna de portal online ou blog.

Em abril/2021, um cronista social, Bebeto Torres, reclamou do visual da governadora durante entrevista a uma TV local. “Estava de camisa estampada estilo ‘caipira de flores do campo’ e diadema com estampa similar, tudo meio confuso. Com o corte do cabelo e a falta de maquiagem, fica no geral um styling que não condiz com uma Governadora em exercício”. Um ano antes, o mesmo redator elogiou o visual de Fátima Bezerra, durante uma solenidade no Rio. “Sua modista deveria pegar esse modelo e fazer um azul marinho, um preto e um beje, e orientá-la usá-lo repetidamente, afinal repetir é chic e sustentável, desde que cheiroso e bom engomado.”

Fátima ficaria feliz com o debate, surfando confortavelmente em pesquisas que a colocam com mais que o dobro das intenções de voto do segundo colocado. No caso dos comensais do sábado, alguém lembrou ainda que a simplicidade da governadora no vestir é um fator adicional de popularidade. Outra recordou que a lupa que paira sobre o visual da ex-senadora ignora atropelos visuais explícitos de homens no exercício de cargos executivos e legislativos. Ou seja, é no mínimo sexista criticar o modo de Fátima Bezerra trajar-se, mas poupar, por exemplo, companheiros seus de chapa nestas eleições. Na convenção do sábado, ela posou para fotos ao lado de Garibaldi Alves e Carlos Eduardo Alves, ambos ostentando uma respeitável pança e trajando camisetas polo esgarçadas.

Foto: Divulgação

*Stella Galvão é jornalista, cronista e colaboradora do blogdobarbosa

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