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Salles `foge´, enquanto Bolsonaro mente sobre ONGs — mas nada diz sobre Rondônia, onde teve 72% dos votos com discurso `vale tudo´

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Seria uma ópera bufa, não se tratasse da maior reserva de biodiversidade do planeta.

Agosto é o mês das queimadas na Amazônia, não só no Brasil mas também na Bolívia, no Peru e na Colômbia.

É quando os agricultores “preparam” o terreno para plantio usando uma técnica antiga, barata, mas ambientalmente desastrosa: tocar fogo no mato.

Muitos focos de incêndio se espalham sem controle, pois o vento pode mudar repentinamente.

Uma pesquisadora peruana argumenta que o regime de ventos está mudando na Amazônia, por causa das mudanças climáticas.

Segundo ela, mesmo agricultores com experiência estão perdendo o controle sobre queimadas que deveriam ser restritas — ela apontou para o caso de um agricultor que queimara uma casa.

O problema já foi mais grave no Acre, porém o governo local conseguiu reduzir as queimadas no entorno de Rio Branco.

Ainda assim, a capital cheira a cinza.

Entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, no entanto, ao longo da BR-364, o mato queima à vontade, apesar das placas de alerta pedindo que as queimadas sejam evitadas.

No Peru, desde a fronteira do Brasil até Mazuco, as duas margens da rodovia Interoceânica, que liga São Paulo e Lima, estão sendo desmontadas por uma combinação de madeireiros, garimpeiros e o fogo das queimadas.

Agora, o foco principal da fumaça parece estar em Rondônia.

“O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nos tiramos dinheiro de ONGs, 40% ia para ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro. Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil”, acusou o presidente Jair Bolsonaro — de forma ignorante e mentirosa.

Todo amazônida sabe que agosto é o auge das queimadas, inclusive nas margens das rodovias.

Além disso, todo cientista sabe que os rios aéreos que correm da Amazônia em direção a várias partes do Brasil influenciam o regime de chuvas e podem trazer a fumaça das queimadas.

Por isso, setores do agronegócio já entenderam que podem ser os primeiros prejudicados com uma mudança repentina no regime de chuvas no Brasil.

Bolsonaro teve 82% dos votos em Rio Branco (AC), 78% em Boa Vista (RR) e 68% em Porto Velho (RO), no segundo turno das eleições de 2018. Em Rondônia, Bolsonaro teve 72% dos votos no segundo turno.

Eles fez campanha na região prometendo legalizar os garimpos, inclusive nas terras indígenas, reduzir o que chamou de “fábrica de multas” do Ibama contra madeireiros e donos de terras e outros “desentraves” ambientais.

É apenas natural que os eleitores tenham entendido as falas de Bolsonaro como um “liberou geral”, já que o discurso dele sempre teve grande ressonância na região.

Culpar indígenas pela falta de desenvolvimento na Amazônia é uma saída fácil, que dispensa o governante de apresentar um plano coerente de desenvolvimento sustentável.

O “nós contra eles”, neste caso, usa as ONGs e os indígenas como bodes expiatórios para encobrir a própria incompetência ou irresponsabilidade.

Foto Luiz Carlos Azenha, na BR-364, no Acre

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