Baú de Estrela

Um candeeiro na cidade luz

por Stella Galvão

Deu gosto de ver Lula em Paris circulando com a habitual desenvoltura e falando com propriedade, com conhecimento de causa, das dificuldades dos países em desenvolvimento cumprirem metas ambiciosas, impostas pelos europeus, de freio às mudanças climáticas e ao desmatamento. E para cobrar atenção para a desigualdade histórica, milenar, dos países do norte em relação àqueles situados ao sul na geopolítica mundial. É um homem idoso com uma energia que salta à vista, em seu terceiro mandato à frente de um país isolado internacionalmente durante quatro anos de desmandos, muitos deles ambientais, da extrema direita.

Lula fala, sempre em português, muitas vezes com uma fala improvisada e com escorregadas ortográficas, e é sempre ouvido. Uma marca de um verdadeiro líder, uma das frases mais conhecidas do líder do movimento negro americano Martin Luther King Jr., é não exatamente buscar o consenso, mas moldá-lo. Ou seja, reunir argumentos e pessoas capazes de também buscá-lo para que ele, enfim, seja alcançado. À parte as reuniões e discursos, Lula teve seu momento pop quando participou, a convite da banda Coldplay, do Power Our Planet, festival de música ocorrido em espaço aberto em frente à badalada Torre Eiffel. Foi bastante aplaudido quando lembrou que os maiores poluidores do planeta nos últimos dois séculos foram os países que fizeram a revolução industrial. Logo, países europeus. Os mesmos que cobram os países em desenvolvimento, sem atentar para a desigualdade também histórica.

Lula ciceroneado pelo presidente francês Emmanuel Macron, com quem almoçou e jantou em palácio, ouvido com atenção onde quer que falasse, da cúpula organizada pelo francês para que ele brilhasse, seja falando a multidões de um show de música, a brasileiros que vivem em solo francês, a jornalistas. Algum sinal de deslumbramento do líder brasileiro? Zero. Lula é cidadão do mundo e não é de hoje. Macron já se encontrou com um Lula sem mandato, recém-liberado da cela da Polícia Federal no Paraná. Na época, 2021, o encontro foi criticado pelo mandatário que ainda ocupava o Palácio do Planalto. Jair, que não pisou na cidade luz, acrescentou um grão à imagem de ogro sexista ao responder a um seguidor que comparava a idade das esposas de ambos. ‘Não humilha cara Kkkkkkk’, respondeu Jair. A diferença de idade de Macron para Briggite é de 25 anos, entre Jair e consorte é de 27 e de Lula e Janja é 21 anos. Mas no primeiro caso, é ela a mais velha, um detalhe que ajudou o jovem candidato a ser eleito presidente em um país onde os ecos preconceituosos só persistem em relação aos imigrantes da África antes colônia. E assim voltamos ao cerne da fala certeira de Luiz Inácio, cidadão do mundo.

*Stella Galvão é jornalista, cronista e colaboradora do blogdobarbosa

Foto: Ricardo Stuckert

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