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por Tereza Cruvinel, no site Brasil 247
Caminhos paralelos e perigosos entre Brasil e Itália. Na tarde desta sexta-feira, após o governo federal deflagrar sua campanha publicitária contra o confinamento no combate ao coronavírus, com o mote “O Brasil não pode parar”, o governador de São Paulo, João Dória, fez um duro ataque ao presidente Bolsonaro, por sua cruzada contra o isolamento físico-social e o fechamento comercial, perguntando: “Quem será o fiador das mortes no Brasil?” Também hoje o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, admitiu seu erro ao embarcar na campanha “Milão não para” (qualquer semelhança com o mote da campanha do governo brasileiro não é mera coincidência), inspirada por Mattei Salvini, líder de extrema direita aliado dos Bolsonaro. Sala bateu de frente com o primeiro-ministro Giuseppe Conte.
A Covid19 talvez não tivesse produzido resultado tão catastróficos em Milão e na Lombardia caso Sala e outros prefeitos da região não tivessem incentivado a população a seguir com a “normalidade”. A tragédia italiana talvez fosse menor se a elite política do país não tivesse passado 15 dias brigando, divergindo sobre os caminhos a seguir, exatamente como está acontecendo aqui no Brasil. Aliás, aqui a queda de braço é mais grave, porque temos o presidente da República contra todos: Congresso, governadores, OMS, autoridades sanitárias locais e internacionais.
Quando a campanha “Milão na para” foi lançada, a Lombardia tinha 250 casos de Coronavirus e 12 mortes. Estavam no início mas a disseminação não foi contida. Hoje há quase 40 mil casos e 5.402 pessoas já morreram. Só em Milão, 4.400 mortos. Por isso Doria perguntou: “será preciso que 4.400 morram” para Bolsonaro entender que está errado? Com os mil óbitos desta quinta-feira, a Itália passou dos 9 mil mortos e nas próximas horas chegará aos 10 mil.
Faltou à Itália aquilo que todos pregam mas não existe no Brasil: “ação coordenada”. Não há coordenação entre Governo Federal e governos estaduais (que estão se coordenando entre si) e muito menos unidade no próprio governo central. O governo Bolsonaro age como cobra de duas cabeças. Com uma o presidente fala contra o fechamento do comércio e o confinamento, sustentando um discurso de preservação dos empregos e da economia que se tornou inócuo. A economia já foi para o brejo, agora é salvar vidas e evitar o pior. Com outra cabeça, o governo toma medidas corretas: decreta a calamidade pública, o ministério da Saúde adota linha científica (embora Mandetta esteja cedendo visivelmente a Bolsonaro) e baixa pacotes como o de hoje, que libera crédito de R$ 40 bilhões para pequenas empresas financiarem a folha de pagamento.
* Tereza Cruvinel é colunista do 247, e é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País
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