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Baú de um Repórter

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Entrevista

Henrique faz um remake sobre o impeachment de Dilma ao dizer que “questões fortemente políticas motivaram tão difícil decisão” e diz que já cumpriu sua missão

Deputado com o maior número de mandatos consecutivos na Câmara Federal  – 11 no total -, ex-presidente da Casa, chegando ao Parlamento aos 22 anos de idade, filho do ex-governador, ex-deputado constituinte e ex-ministro de Estado Aluizio Alves (in memoriam), que o lançou na política, Henrique Eduardo Alves, considerado um grande articulador até pelos seus adversários políticos, é o entrevistado do blogdobarbosa nestes 16 anos no ar de forma ininterrupta.

Henrique Alves, pode-se dizer, é uma lenda viva do aluizismo no Rio Grande do Norte. Embora sem mandato pelos percalços enfrentados na vida pública, Henrique é um verdadeiro baú de memórias de uma boa parte do período republicano no Brasil, tendo vivenciado várias crises políticas durante os mais de 40 anos como parlamentar. Por este critério o Blog decidiu entrevistá-lo fazendo uma espécie de remake, ou seja, de uma história que já foi contada de sua vida como agente político, mas agora sob um novo olhar. Henrique brinca e diz que algumas passagens do que disse na entrevista fará parte de um livro que pretende escrever. Segue a entrevista:

1-blogdobarbosa – Henrique, você que vivenciou a política brasileira como parlamentar durante mais de 40 anos de sua vida, e agora sem mandato, qual a leitura que faz sobre o momento político e social que o Brasil vive, se comparado a outras épocas. Podia fazer um paralelo?

Henrique Alves – Impossível comparar a ditadura militar de 1964, com tanta violência, tortura, mortes, censura, cassações, tantas dores, com momentos, sabemos, tão intolerantes dos últimos anos. Com 22 anos assumi a responsabilidade de não deixar morrer a esperança em sua plenitude! Na coragem, na resistência, na liberdade, na saudade, e numa relação de paixão e amor tão grande. Vivi emoções inesquecíveis, em alegrias e tristezas, mas com o aprendizado de uma vida… resistir e reconstruir sem ódio e sem medo! Hoje, para finalizar tão complexa pergunta, eu diria: “ Navegar é preciso, Viver não é preciso!” E no mar agitado da Democracia que juramos na Constituinte, que bem faria ao nosso País nos dias de hoje.. um Ulisses Guimarães! Em frente, o Brasil quer paz! Igualdade! Respeito! Esperança! O vendaval passou….!     

2-blogdobarbosa- Muitos analistas políticos consideram que o MDB, então PMDB, fez parte do golpe contra a ex-presidente Dilma Ruosseff, que sofreu um impeachment tendo como argumento as “pedaladas fiscais” que seis anos depois o MPF arquivou o inquérito sobre o assunto por falta de provas. Como o Sr analisa isso?

Henrique Alves – A política, seus momentos e circunstâncias! Não exercia o mandato nesse tempo, mas quando senti a divergência que distanciava o MDB, meu Partido de vida, da ex presidente Dilma, a ponto de em Convenção ir ao rompimento, entreguei o honroso cargo de ministro do Turismo. Éramos 5 ministros do MDB em seu Governo, e fui o único, isoladamente, a agradecer a confiança ao deixar o Ministério. E aqui registro o que sempre disse: a certeza da absoluta honra da ex-presidente Dilma. Questões técnicas e mais fortemente políticas, motivaram tão difícil decisão do impeachment.                 

3-blogdobarbosa- Lembro que por falta de sintonia com o Congresso por parte da então presidente Dilma, o Sr chegou a oferecer a ela, como uma brincadeira, um bambolê para que aprendesse a ter jogo de cintura. Essa brincadeira já era uma sinalização para a presidente para que ela se aproximasse mais dos congressistas? O impeachment foi uma resposta a essa falta de sintonia?

Henrique Alves –Parabéns por relembrar esse “ bambolê…”! Realmente, a ex- presidente Dilma não tinha um temperamento dos mais afáveis. Seu jeito tão sério de ser, forma e conceito. E eu como líder do MDB, maior bancada com 82 deputados, ouvia reclamações, procedentes ou não! E noutros Partidos também! Saber melhor dizer o não, tão necessário em uma gestão pública. Até que o hoje ministro José Múcio, que chefiava o seu Gabinete, me viu dirigir à sala da presidente Dilma, e com um pacote bem empacotado. Me chamou e eu disse que era um bambolê… de cor rosa.., para em bom humor dizer à presidente que tivesse mais habilidade no trato com parlamentares! Ele disse: “de jeito nenhum!! Você sabe como a Dilma é! Eu depois entrego a ela com jeito….” E assim foi…. E passou! Aparte: Dilma era tão assim que eu quando relator da MP do Minha Casa Minha Vida em 2009 fui tratar com ela, Lula presidente, que mudaria o original para atender municípios com menos de 50 mil habitantes e até 3 salários mínimos ( RN seriam apenas 3). A proposta era para cidades com mais de 100 mil habitantes. Concentração urbana SP, RJ etc. Discordei! Ela não aceitou mudar. Viria outra MP… Não aceitei. Discutimos. Fui embora. Mudei, aprovei por unanimidade, e depois… ela me parabenizou…! Assim é a Dilma, depois presidente, e me fez seu ministro.       

4-blogdobarbosa – O Sr foi uma das vítimas da Lava Jato. Uma das teses sobre conspiração política fala que a Lava Jato foi produto do golpe contra Dilma, levando, inclusive, a que o presidente Lula, na época sem mandato e favorito ao pleito presidencial de 2018, virasse preso político, o que acabou favorecendo a eleição de Jair Bolsonaro. O que o Sr tem a dizer sobre isso?

Henrique Alves – Hoje, naturalmente, o Brasil está constatando a criminalização da política. Ex- deputado Deltan, ainda o senador Moro, ex-procurador Janot- que foi o responsável pelo que vivi para atingir o ex-presidente Temer que não o reconduziria… E trabalhou para o Judiciário derrubar a chapa Dilma-Temer e o TSE decidiu manter por 4 a 3. E o noticiário meu aqui era todo vinculando ao meu amigo Temer, porque a votação lá foi no mesmo dia da violência que sofri aqui, manhã e tarde. Enfim, a democracia e o respeito entre os Poderes são conceitos básicos e exemplares do nosso País para o mundo! E por consequência… surgiu a Nova Política… Com seus orçamentos secretos, seu desrespeito à imprensa, agressões diárias ao Poder Judiciário, o dia 8 de janeiro.. e antes… dele! Enfim, um vendaval de intolerância com uso de parte das prestigiadas Forças Armadas, e uma política hoje tão desgastada. Os Partidos? Base do poder representativo do voto popular, como estão hoje? 32 Partidos no Congresso!! Como pode isso? Aí deixo ao julgamento de cada um a política que hoje representa o povo brasileiro

5-blogdobarbosa- O surgimento do “mito” Jair Bolsonaro que acabou se elegendo presidente, um político de extrema-direita, está relacionada principalmente a falta de lideranças políticas na direita capaz de enfrentar a esquerda liderada pelo presidente Lula, hoje reconhecidamente uma liderança mundial. Já há quem diga que a direita precisa de uma opção descente ao bolsonarismo. É certo dizer que o Brasil se ressente de líderes políticos como Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Tancredo Neves, entre outros.?

Henrique Alves – Até me antecipei a essa pergunta quando me referi ao grande Ulisses Guimarães. E aqui acrescento também um Mário Covas. Políticos que entendiam e praticavam a política no seu conceito filosófico e profundo! Agregar, somar, interpretar sentimentos das pessoas, e com o desenho da fraternidade, do respeito, chegando ao perdão. No mundo de hoje, e o Brasil tão continental, não cabe extremos na política, e nessa condução, as casas legislativas têm imensa e intransferível responsabilidade. Extrema-direita, extrema-esquerda, vivem perdidas no ódio e intolerância! É sempre bom lembrar que em 2022 a extrema- direita assumida e a esquerda tão bem representada pelo presidente Lula, não venceram no 1 turno! Nem um nem outro! Foi o centro democrático que naturalmente privilegiando a democracia se somou a Lula. E superou os 50%. E assim continua. O Brasil não é radical nem intolerante. Centro democrático sempre será a referência do diálogo e respeito! E é esse segmento eleitoral que o presidente Lula com sua experiência, vida e sabedoria, tenta conquistar! Finalizo, sou extremo sim, “ extremo-centro”!

6-blogdobarbosa- O Sr que vivenciou parte do período da ditadura militar no Brasil sempre na oposição ao regime, como viu os atentados terroristas contra o Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal? A extrema-direita comandada pelo bolsonarismo estaria ocupando o vácuo deixado pela direita colocando o país em situação de risco?

Henrique Alves – 8 de janeiro entendo como frustração enlouquecida dos que queriam dar um golpe neste país. Não souberam disputar- comprometeram o orçamento do país deste 2023 com tantos abusos- e no desespero estimulado e golpista tentaram derrotar a democracia. Dezembro foi o mês decisivo, quando as Forças Armadas não assumiram o golpe de Estado, a denúncia corajosa da imprensa do Brasil e do mundo. Aí restaram as atitudes criminosas de um 8 de janeiro que só o tempo enterrará. Se Deus quiser. Em frente!

7-blogdobarbosa- Henrique, temos pela frente uma eleição municipal. O Sr pretende retornar à vida pública tentando um cargo eletivo em 2024, prefeito ou até mesmo vereador?

Henrique Alves – Na vida política/partidária já cumpri minha missão. Desde jovem, 21 anos na campanha de 1970, procurei honrar o voto, o respeito e o carinho do meu RN. 11 mandatos, e no último, em 2010 conquistando a minha maior votação, 170 mil votos no MDB da minha história. Agora, a vida segue. Gosto de acompanhar a política como quem numa arquibancada gosta de futebol e vai assistir os jogos. Muitos amigos de uma vida, e sempre, aqui ou em Brasília, sempre e atualizadas conversas políticas. E aos que nela estão, ou virão, a grande lição aprendida: caminhar, cair, se levantar, cabeça sempre erguida, e sem ódio e sem medo!!

8-blogdobarbosa – A pergunta que não poderia deixar de ser feita: o Sr rompeu politicamente com Garibaldi Alves (MDB) na última eleição. Como está o relacionamento de vocês hoje? Há possibilidade de reatar esse relacionamento? Existe ainda algum laço do Sr com o MDB, partido que ajudou a fundar no Estado, capaz de estreitar novamente a aproximação entre os primos?

Henrique Alves –  A pergunta mais difícil e a resposta mais doída! Não saí do MDB. Como sair da casa que com tanto amor e coragem ajudei a construir? Fui absurdamente expulso do MDB! Difícil, quase impossível, fazer a carta de despedida que fiz. Mas tive que fazer sob as bençãos sempre do meu pai, que sempre me iluminou! E consegui virar essa página. Com essa lição dele: sem ódio, porque escraviza! Sem medo porque acovarda! E assim sigo em frente! E com Garibaldi não há força humana, embora tentem, que me faça querer mal. Uma vida toda juntos, 53 anos. Ele sabe, no íntimo. Sempre que nos encontramos sou o primeiro a ir a ele, com sua Denise, e tome conversa. O querer bem é assim. Vence tempestades e vê sempre o dia renascer. Durmo em paz, até porque nesse caminho tenho mãos atreladas a minha mulher Laurita! Fiquemos todos em paz! E a vida vai sempre lhe abraçar!

Foto: Divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

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