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O próximo a desmaiar pode ser um general

por Moisés de Lima, no Brasil 247

Os brasileiros merecem os presentes que o sistema de Justiça vem oferecendo ao país às vésperas de mais um 31 de março. O resgate da democracia passa também pelo fortalecimento da autoestima.

E o próximo presente, depois da prisão dos mandantes da morte de Marielle, poderia ser o pacote completo dos mandantes que mandavam nos mandantes presos.

Precisamos chegar aos mandantes dos mandantes e suas motivações. Que o sistema de Justiça ofereça aos brasileiros, mas agora sem tanta demora, os nomes dos que levaram os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa ao planejamento da morte de Marielle.

É o que os clássicos da literatura, os antigos livros policiais de bolso e até as séries da Netflix e as novelas da Globo ensinam. Um mandante que manda executar tem atrás dele um mandante ou vários outros mandantes mais poderosos e encobertos.

As estruturas que conseguiram manter segredos em torno do assassinato da vereadora até agora são mais do que parte de uma facção criminosa. São parte das estruturas políticas que os sustentam.

Marcelo Freixo sabe disso, como sabem todos os que conhecem o funcionamento das milícias e similares. Não existe crime organizado no Rio sem suporte de estruturas políticas e institucionais poderosas.

O Rio é a escola onde funcionam essas organizações, com interesses específicos em várias áreas, mas sempre sob sustentação da política e de seus tentáculos no Estado, desde a polícia até o Judiciário e o governo.

A espera pela identificação dos mandantes que mandavam nos mandantes presos pode reproduzir e prolongar a angústia que persistiu até aqui, seis anos depois do crime. Mas agora o Brasil vai querer saber.

Pelas conexões que começam a ser expostas, poderemos ter, daqui a pouco, mais um desmaio de fascista, desta vez talvez até de um general. Para que também nessa área dos desmaiadores exista alguma hierarquia. Chega de coronéis desmaiando.

O caso Marielle amplifica o sentimento de que o Brasil é uma fábrica de bandidos que se transformam em delegados, promotores, procuradores, militares, juízes de baixas e altas cortes, deputados, senadores e até presidente da República. 

* Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero Hora, de Porto Alegre

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