Artigo

O punho erguido do campeão Lewis Hamilton como protesto racial

por Ricardo Lagreca

O que há entre as grandes vitórias de Jesse Owens, negro americano que em 1936, na Olimpíada de Berlim, insurgiu-se diante de Hitler, ultrapassando todas as expectativas do mundo nazista da suposta superioridade da raça ariana ao estabelecer quatro recordes olímpicos, dois dos quais mundiais e diante de uma multidão de alemães fanáticos? Também, o que existe entre os negros americanos, Tommie Smith e John Carlos, que em 1968, na Olimpíada da cidade do México, ao subirem ao pódio, ergueram suas mãos fechadas como protesto criando um outro simbolismo da luta racial, já iniciada em Berlim?

O que separa tudo isso e a recente repetição do mesmo protesto na corrida de Fórmula 1 no Grande Prêmio da Estíria, agora por um negro inglês, o grande campeão Lewis Hamilton, recordista de vitórias tal qual Schumacher e o nosso Ayrton Senna?

O que existe na realidade, entre todos esses fatos de grandes vitórias, é o que menos podia se esperar. Um grande hiato de melhoria da humanidade no trato da igualdade dos homens. Em outras palavras, muitas derrotas. Daí, o grande corredor inglês reagir como há 84 anos atrás. Durante todo este tempo poucas modificações das diferenças das classes sociais e, principalmente, das raças aconteceram.

Não era essa a lógica depois de tantas lutas, tantas mortes, tantos heróis, emblematizados por Martin Luther King e outros mais como a nossa Marielle e agora, um homem ser morto por asfixia, indefeso, só porque era negro, cria mais um outro herói a compor essa galeria, o americano George Floyd.

À medida que evoluímos para um mundo fantástico de tecnologia uma revolução maior até do que se pensava, era de se ter os homens mais iguais. Raças diferentes nos seus fenótipos da cor, o que é muito bom, mistura os seres e lhes dão tipos diferentes de identificação, até mesmo da atração sexual. Mas, nunca da diferença dos seus direitos humanos.

Infelizmente é o que este fato retratou. Nos preocupa a pouca liderança existente, como outrora, de homens que continuem essa luta. Não havendo isso, daqui a mais outros 84 anos, provavelmente, mais vencedores negros continuarão a erguer os seus punhos como assim o fez Lewis Hamilton.

*Ricardo Lagreca é médico cardiologista, professor do Curso de Medicina da UFRN, ex-diretor do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) e ex-secretário estadual de Saúde do Rio Grande do Norte

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